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100 anos

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Foto: Reprodução

Em 1946, a jovem escritora brasileira Clarice Lispector retornava do Rio de Janeiro para a Itália, onde seu marido servia como vice-cônsul em Nápoles. Ela viajara ao Brasil como mensageira diplomática, levando despachos para o ministro brasileiro das Relações Exteriores, mas com as rotas habituais entre a Europa e a América do Sul bloqueadas em função da guerra, sua viagem ao reencontro do marido seguia um itinerário nada convencional. Do Rio ela voou para Natal, dali para a base britânica na ilha Ascenção, no Atlântico Sul, em seguida para a base norte-americana na Libéria, dali para as bases francesas de Rabat e Casa Blanca, e por fim para Roma, via Cairo e Atenas.

Antes de cada etapa ela teve algumas horas, ou dias, para espiar ao redor. No Cairo o cônsul brasileiro e sua esposa a convidaram para ir com eles a um cabaré, onde ficaram maravilhados com a exótica dança do ventre executada ao som da familiar melodia do sucesso do carnaval carioca de 1937: “Mamãe Eu Quero”, na voz de Carmen Miranda.

O Egito não a impressionou, conforme escreveu ao amigo Fernando Sabino:

Vi as pirâmides, a esfinge – um maometano leu minha sorte nas “areias do deserto” e disse que eu tinha coração puro… [,,,] Falar em esfinge, pirâmides, piastras, tudo isso é de um mau gosto horrível. É quase uma falta de pudor viver no Cairo. O problema é sentir alguma coisa que não esteja prevista num guia.

Clarice Lispector nunca voltou ao Egito. Mas, muitos anos depois, relembrou sua breve excursão turística, quando nas “areias do deserto”, encarou desafiadoramente ninguém menos que a própria Esfinge.

Não a decifrei – escreveu a orgulhosa e bela Clarice.

Mas ela também não me decifrou.

* Trecho do livro Clarice, – do escritor americano Benjamin Moser, com tradução de José Geraldo Couto. Editora Cosac Naify, 2006. Uma biografia que recria, em toda sua complexidade, a natureza existencialista dessa notável escritora que hoje completaria 100 anos.

EM TEMPO:

Leia também a bela reportagem sobre Clarice Lispector publicada no Jornal da USP, assinada pela repórter Leila Kiyomura.

Para ler, CLIQUE AQUI 

E, a partir de hoje, confiram o site sobre a obra da escritora:

www.claricelispector.ims.com.br.

1 Response
  • Leila Kiyomura
    10, dezembro, 2020

    Rodolfo, agradeço o espaço tão caro e único. Clarice Lispector nos ensina a compartilhar nossos sonhos e “Coisas” , como ela definia, que nos fazem seres vivos…
    Obrigada por ser sempre o mestre e editor que me orientou desde a primeira pauta. No trabalho e na vida…

    Obrigada

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