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Aqueles dias tensos…

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Tinha 13 anos em março/abril de 1964 quando se deu o Golpe Militar, com apoio de muitos segmentos da sociedade civil e dos meios de comunicação da época, que obscureceu o País por 21 anos.

(…)

O garoto de apelidoTchinim não entendeu exatamente o que estava acontecendo naqueles dias tensos. Só pensava em jogar futebol e ouvir as músicas dos Beatles, dos Rolling Stones e do Benjor (que ainda atendia pelo nome artístico de Jorge Ben).

Em casa e na família, ouvia versões diversas dos fatos que alarmavam a todos.

O pai era ademarista e culpava o tio Ferdinando e os janistas, como ele, por causarem toda aquele transtorno:

– O Brasil precisava de um gerente. Não de um doidivana que vocês elegeram.

O vô Carlito, lavado enxaguado em outros movimentos, como os de 24 e 32, não entrava no mérito da discussão. Falava que era melhor “estocar alimentos”.

– Pode-se até saber quando começa uma revolução, mas nunca se sabe quando e como vai terminar.

Os tios Toninho e Neno não se pronunciavam. Entre um refrão e outro de Nélson Gonçalves (seu ídolo maior), o tio Toninho arriscava o descrédito generalizado:

– Não acredito em uns, desconfio de outros.

(…)

Na rua onde Tchinim morava, no bairro operário do Cambuci, houve duas ou três manifestações dos trabalhadores da Fábrica de Latas Americanas. Os homens circunspectos de macacões azuis tomaram o leito da rua e discursaram. Tinham um tom ameaçador e olhar – Tchinim nunca esqueceu – bem assustado do que poderia acontecer.

E aconteceu.

Dias depois, soube-se sempre em tom de segredo, que o pai do Nestor (amigo de Tchinim) estava desaparecido. Preso em algum quartel.

Ele foi o que mais falou naqueles encontros – e parece que estava dando explicações do que disse aos novos donos do poder. Os militares e seus seguidores.

– É só o começo… – alertou o Seu Simeão (pai do Claudinho Zeola, outro amigo de Tchinim), que também trabalhava na Flasa.

– A coisa vai piorar.

(…)

Piorou, e como!

No começo, os primeiros anos, até que não. Mesmo com um ou outro tanque na rua, houve uma (in)certa tranquilidade para a população de um modo geral.

Fez-se o tal do milagre econômico e se anunciava “o Brasil como o País do Futuro”.

Nos porões da caserna, o pau cantava.

Raros sabiam exatamente o que estava acontecendo.

Havia a censura rigorosa dos meios de comunicação. Agora, arrependidos de terem apoiado o Golpe.

Prendia-se, torturava-se e matava-se a quem ousava discordar da ordem geral.

Éramos reféns dos interesses internacionais, sem voz e sem vez, e a Economia logo deu mostras de que tudo não passou de uma grande farsa.

(…)

Em 1973, a crise internacional do petróleo mostrou quem era a matriz e quem era a filial, agora abandonada à própria (má) sorte.

O resto é história – e acredito que meus amáveis cinco ou seis leitores (que insistem em me ler diariamente) sabem muito bem no que deu…

E, acredito também, não querem viver outra vez o mesmo pesadelo

Ou querem?

Será que estou tão enganado assim?

*(foto: jô rabelo)

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