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20 minutinhos

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Ela me ensinou a meditar.

Quer dizer, bem que tentou.

Faz tanto tempo.

Não lembro.

Parece que foi ontem.

Disse que eu vivia no 220.

Precisava desconectar.

“Você está sempre ligadaço, pensando e pensando. Tem hora que precisa virar a chavinha e desligar”.

Sorri o sorriso dos descrentes.

Vivia pilhado mesmo.

“Meu nome é trabalho, sobrenome jornalismo.”

Como podem ver, gostava de uma frase de efeito.

(Que bobagem!)

Sempre me entendi um cara de responsa e levava a sério essas estultices todas do cotidiano de uma redação que, muitas vezes, nos faz imaginar melhor do que verdadeiramente somos.

Vale para outras profissões?

Talvez, é provável.

Mas a moça de feições indianas (é baiana de origem) insistia com jeito manso:

“Senta bonitinho, em posição confortável. Feche os olhos e vai… Respira fundo. Leva um tempo para pegar a prática. 20 minutinhos por dia. No dia que chegar lá me diz.”

– Como vou saber que cheguei lá?

“Quando perceber que passou esse período sem pensar em nada.”

– Acho que durmo antes.

“Bobão, aí que está o segredo da meditação. Vai ver… Te leva à perfeição. Te ajuda a ficar mais centrado no que é realmente importante. Viver o presente. Descolar-se do passado, deixar que o futuro aconteça com naturalidade.”

– Vou tentar, eu disse sem qualquer convicção.

“A gente não tem controle sobre as  coisas do mundo, não. O negativismo está solto por aí. Não podemos nos prender a isso. Essas coisas ruins acabam com a saúde física, mental e espiritual da gente.”

“Você me acha louquinha por dizer essas coisas.”

Uma louquinha do bem, maravilhosamente intencionada, pensei; mas,  não sei se lhe disse.

Ela fez questão de me emprestar o Livro dos Sonhos, do argentino Jorge Luis Borges.

Tentei ler, não fui muito longe.

Parei na página em que ela havia assinalado, com o amarelão do ‘marca texto’, uma frase atribuída a Orígenes, compilada por Borges:

Sem Reclamações

Deus não castiga ninguém sem ter avisado antes.

Achei maneiro, enigmático.

Fiquei meditando sobre…

Em vão.

Dormi e não sonhei.

Faz tanto tempo.

Parece que foi ontem.

Vale pra hoje.

Preciso encontrá-la.

Para lhe devolver o livro que não li…

 

Foto: Instituto Hollos/divulgação
1 Response
  • VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
    7, junho, 2019

    Boa!!!

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