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A aventura da reportagem

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De bom grado, encaminho meu exemplar de A Aventura da Reportagem, de Gilberto Dimenstein e Ricardo Kotscho (Summus Editorial, 1990) ao Ednardo, filho do amigo Orellano.

O rapaz quer ser jornalista.

Na verdade, diz o pai, sonhava ser jogador de futebol.

Orellano, por sua vez, quer que seja ‘doutor advogado’ para ter um futuro mais garantido.

Conversaram sobre o assunto, pai e filho.

E o garotão saiu-se com esta de ser jornalista.

Jornalista esportivo, imagino eu.

Orellano balança a cabeça:

– É provável.

Ele, que  agora é “micro-empresário”, assim que se (re)apresenta ao me (re)ver, ressalta, como se eu não soubesse, que foi gráfico em idos tempos e teve que se virar assim que a função de arte-finalista (past-up, quem se lembra?) desapareceu do processo de feitura dos jornais e revistas.

– Sei como é. Conheço o métier, diz todo gabola.

Talvez por isso me peça em tom de incontrolável aflição:

– Conversa com ele. Fala a verdade. Diz das dificuldades, que a profissão também está desaparecendo, que as redações estão cada vez mais vazias. O emprego rareia…

Preocupa-se com o futuro do filho.

É natural.

Preciso ser sincero.

Então, digo a ele que, lá trás, tive esse papo direto e reto com meu próprio filho – e não adiantou.

Fez-se jornalista.

E está pela aí a quebrar pedra. Assim, assim…

Mas, me parece feliz.

(Há quem diga que um jornalista-jornalista nunca está inteiramente feliz. Sempre na correria, na busca pela notícia da vez.)

Enfim…

É nossa sina.

Vejo que o meu amigo ficou amuado, triste que só.

Creio que, por essa, ele não esperava.

Para não deixá-lo de mãos abanando, no vazio, vou até o escritório, pego o livro da estante e lhe entrego.

Antes, porém, faço questão de assinalar um trecho do prefácio, escrito por Clóvis Rossi, que diz o seguinte:

Que me desculpem Vinicius de Moraes, os editores e os redatores, mas repórter é fundamental. É certamente a única função pela qual vale a pena ser jornalista. Jornalista não fica rico, a não ser um punhado de iluminados. Jornalista não fica famoso, a não ser um outro (ou o mesmo) punhado e assim mesmo no círculo restrito que freqüenta ou é lido.

Jornalismo, por isso, só vale a pena pela sensação de se poder ser testemunha ocular da história de seu tempo. E a história ocorre sempre na “rua” num sentindo bem amplo. Rua pode ser a rua propriamente dita, mas pode ser também um estádio de futebol, a favela da Rocinha, o palanque de um comício, o gabinete de uma autoridade, as selvas de El Savaldor, os campos petrolíferos do Oriente Médio. Só não poder ser a redação de um jornal.

Por isso, é um privilégio ser repórter.

Orellano fica pensativo agora.

Lamenta a perda de Clóvis Rossi que nos deixou nesta semana.

Diz que ‘o grandão’ vai fazer uma falta danada ao jornalismo e ao Brasil.

Concordo plenamente.

Acrescento que, para alguns, a lição pode parecer antiguinha. Mas, é o que ainda entendo como a essência do bom jornalismo.

Melhor que esta, eu desconheço, acrescento.

Vale por um compêndio.

Tomara que o Ednardo leia, pense, repense – e decida.

Torço por ele e pelo amigo Orellano.

Que sejamos todos felizes!

 

Foto: ilustração de capa do livro “Futebol ao sol e à sombra”, de Eduardo Galeano.
2 Responses
  • VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
    18, junho, 2019

    Jornalismo sempre, agora o futebol, você me conhece, ainda fico me perguntando, qual é a graça… Rsrsrs
    Sei que deve ser meu lado ET na vida…

  • clarice falasca
    25, junho, 2019

    Aee amigo, sempre se saindo bem!!! Saudades

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