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A chance

Manhã de sábado. Toca o telefone. Olhei há pouco para o mostrador do rádio-relógio. Passavam das 10. Mas, em vingança à semana maldormida, coma obrigação profissional de acordar cedo, permitia-me o estirão preguiçoso.

Penso em não atender. Não quero, não posso perder a chance. Até desmarquei um compromisso para hoje só para ter a liberdade de sair da cama a hora que bem entendesse.

O telefone insiste.

Não há outra alternativa, atendo. A intenção é me livrar logo do chato.

Ou melhor, da chata. É voz de mulher quem me cumprimenta.

— Senhor Rodolfo, bom dia. Aqui é da Editora Globo…

Há meses tenho espalhado pela aí alguns originais de livros que escrevi e esperam a aprovação ou o interesse das editoras para a publicá-los.

Vai daí que trato de me fazer desperto porque a conversa passou a me interessar.

— Tenho aqui uma indicação para entrar em contato com o senhor…

Ela se apresentou como “qualquer coisa cultural”. Não prestei atenção. Na verdade, quero mesmo que o falatório chegue logo aos finalmente porque desconfio que espero essa ligação há meses.

Mas, a moça fala pra caramba. Quase volto a dormir até que embicamos para o desfecho.

— Então, o meu objetivo é oferecer gratuitamente ao senhor a assinatura anual da revista Quem Acontece, uma promoção do seu cartão de crédito. O senhor só terá que arcar com o custo do Cedex, em torno de três reais, que virá descontado no boleto do seu cartão. O senhor aceita?

Imaginem o tamanho do meu desalento e para onde foi o que restava do meu sono.

— O senhor aceita?

Nessa altura do campeonato, e até para salvar as aparências e o humor, resolvi aceitar. Não sou lá um grande fã dessas revistas de celebridades, mas enfim…

“Aceito”, respondo monossilabicamente no mesmo momento em que me lembrei da enrascada que entrei, há alguns anos, quando caí no conto do vigário da assinatura de outra revista em outra editora. Prometi a mim mesmo que nunca mais repetiria o erro. Deixa pra lá. Perdido por um perdido por mil.

— O senhor pode confirmar o número do seu CPF?

Ai, ai, ai. Não gostei, mas digo que sim para ver aonde vai a conversa.

— 30846…

Resolvo interromper. Até porque meu CPF é outro.

“Este não é o meu número”.

É a vez da moça se espantar.

— Como assim? O senhor não o senhor Rodolfo?

— Sou.

— Rodolfo Reis?

— Não, Rodolfo Carlos Martino.

— Ah! Me desculpe. Deve haver algum engano no meu cadastro.

E desligou,. com se nada houvesse acontecido.

Assim, meus caros, perdi o sono, o livro e a revista. Que, a bem da verdade, eu não queria, mas agora me faz uma falta danada para saber com o Raj termina. Com a Maya ou com a Duda…