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A chuva e o mourão

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Em plagas de Moro no País Tropical que um dia foi abençoado por Deus e hoje – apesar das barbaridades que lhe impinge o capitalismo predador e estúpido – continua bonito por natureza, a metrópole mais pujante amanheceu caótica por causa das chuvas de verão.

Como sempre, a cidade entupida de carros travou nas principais vias expressas.

Expressas?

Nunca, quando chove.

Enquanto isso, no Patropi, queirózes, laranjas e flávios safam-se ainda incólumes do olho grande da Justiça no exato dia que se anuncia um pacotão de medidas contra o crime organizado – e a corrupção.

Agora vai…

Do jeito dos novos-velhos senhores do Poder, mas vai.

Pra onde?

Ainda é arriscado dizer.

Mas, o que é a vida senão o correr riscos?

Sei, mas não precisavam exagerar?

Será que se sustentam?

Ainda uma pergunta sem resposta.

Súbita curiosidade me envolve.

Porque tanto falam de mourão?

O termo não é novo.

Mas, só agora, me parece, ganha popularidade.

Vou ao dicionário, procuro entender o significado da palavra.

De repente, me bateu uma dúvida assim, como direi, angustiante.

O Michaelis On Line, no estilo, tenta esclarecer:

“Qualquer vara, esteio ou estaca de sustentação.”

Fico mais tranquilo.

Ou não?

Continuo a desconfiar do que está por vir.

II.

Sobre chuva e transtornos na “Terra” que um dia foi “da Garoa”, por incrível que pareça, tenho várias lembranças. Algumas boas, inesquecíveis, acreditem; outras, nem tanto – aliás, creio, como a maioria dos moradores locais.

Duas delas – as primeiras, creio – envolvem a minha mais tenra infância.

Garoto ainda, morava na rua Muniz de Souza no Cambuci e, por duas vezes, nossa casa – a de número 420 que ainda resiste altaneira por lá, rodeada de prédios – foi tomada pelas águas.

Na primeira, eu devia ter três ou quatro anos, e me deixaram a salvo sobre o tampo de uma grande mesa de madeira. Toda a família esperou, por ali, as águas baixarem.

Não lembro, mas contam-me: foi um horror.

Passado o pico das cheia, fomos todos buscar abrigo e passar uma temporada na casa do vô Carlito e da vó Ignês.

Só deixamos a vira-lata Branquinha que, naquela altura do pós-enchente, estava marronzinha de barro e lodo.

Foi a guardiã da casa.

Na segunda vez que houve a enchente, eu estava no Grupo Escolar Oscar Thompson.

Choveu forte e quando, na saída das aulas, eu vi que o Tio Neno – e não a minha mãe – viera me buscar, entendi que o problema havia se repetido.

Outra temporada na casa dos avós – e a certeza de que a sina permaneceria por longos anos.

A Branquinha/Marronzinha desta vez se espiantou. Deu fuga.

(Odiava tomar banho, água só na vasilha e pra beber.)

Só voltou uma semana depois quando a casa está limpinha – e ela era um negrume só.

(Precisou juntar uma turma pra conseguir lavar a bichinha.)

Isso foi na década de 50.

Passaram governantes de todos os matizes políticos e ideológico, houve grandes avanços de estrutura e tecnologia, promessas e mais promessas de vereadores, deputados e quetais, todas vãs, como vimos hoje.

Bastou chover – e o drama ressurge.

Olaiá…

Só falta agora culparem São Pedro, como fez em tempos idos um emérito prefeito paulistano.

 

 

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