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A culpa é do Chico Pinheiro que não escutou meu avô…

"Faço votos que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas." (Gibran Khalil Gibran)

01. Não sei se vou frustar sua expectativa. Mas, preferiria neste espaço abrir mão de cometários sobre o estica-e-puxa de Nicéia, ex-Pitta — o prefeito de São Paulo. De uma forma ou de outra, os jornais e as TVs já esgotaram o assunto e, mesmo nos transcendentais papos de botequim, todos já meteram sua colher de pau nesse angu de temperanças absolutamente indigestas para os paulistanos. E por falar em talher, valho-me em última instância da lição do meu saudoso avô Carlito que em briga de marido e mulher não se deve meter a colher. Amanhã ou depois, eles fazem as pazes e a culpa de tudo vai acabar sendo do Chico Pinheiro que não escutou meu avô…

02. Ironias à parte, há um aspecto que me entristece nesta história toda. É o fato de que, por essas plagas benditas, nada ganha dimensões de realidade se não houver um enredo novelístico. Há exemplos e mais exemplos, na história recente do País, que revelam nosso interesse pelo dramático e pela pantomima (que me perdoem plagiar o finado Fernando Collor que consagrou a palavra numa célebre entrevista ao Fantástico). Escândalos não nos faltam. Desde os tempos idos e vividos os dias atuais, relaciono assim, de bate pronto, os precatórios, a máfia das regionais, a compra do voto de parlamentares para a aprovação da emenda que permitiu a reeleição do presidente FHC, as fitas que comprovam dolo nos leilões das privatizações, o esquema PC Farias, o superfaturameto de obras públicas etc etc etc…

03. Os nossos barões da notícia mancheteiam essas negociatas em duas, três edições e depois a coisa toda deixa de ser novidade, perde o vigor e cai inapelavelmente para o esquecimento público. Um esquecimento que tem, queiramos ou não, a conivência da mídia e interessa — ah! como interessa — aos senhores do Poder. Quer dizer, isso se não explode um lance de ópera-bufa como é o caso atual — a mulher traída que transforma-se, da noite para o dia, na guardiã da Justiça e da Nação. Também sem maiores esforços lembro de dois outros episódios que, guardadas as devidas proporções, mudaram o rumo da nossa História: o caso da menina Lurian, filha do então presidenciável Luiz Ignácio Lula da Silva, e a célebre entrevista de Pedro Collor à revista Veja que foi o estopim para a derrocada do irmão-presidente.

04. Quer dizer. Fico imaginando, só imaginando… Lembram daqueles deputados do Acre que prontamente renunciaram ao mandato assim que começaram os rumores de que haviam recebido uma boa grana para aprovarem a emenda que permitiu a reeleição para presidente? Pois bem, imaginem se um desses tais é casado com uma Nicéia, resolve separar-se e aí a moçoila resolve chamar a Globo e por a boca no mundo. Se a líder de audiência topasse comprar a briga (e não fosse tão pró-FHC), quem sabe teríamos hoje um outro mandatário em Brasília, uma outra equipe econômica, outros ministros; outro País, portanto. Quem sabe, não é?

05. De resto, as trombetas de Nicéia anunciaram o que todos já sabiam, mas queriam esquecer. Lembraram escândalos que já estavam esmaecidos, questionaram reputações que nunca foram lá das mais respeitáveis, confirmaram a tibieza de um prefeito despreparado para a função e precipitaram o alvoroço dos candidatos à Prefeitura paulistana. Todos querem tirar proveito dessa muvuca. Proveito próprio, é bom que se diga. Ninguém está pensando em São Paulo, ninguém está pensando em nós — é única certeza que tenho. Por isso, é bom que a gente aprenda desde já a cuidar da nossa própria vida, sem stress. Não precisamos de escândalos. E, sim, de coragem para fazer a escolha certa. Um novo outubro vem aí…

NR: E eu que não queria dar essa bandeira e falar no assunto. Não resisti… Acho que escancarei.