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A Grande Guerra

"Não há culpados. O que há são desgraçados" (Shakespeare)

— O senhor é padre? Olha, caro leitor, já me confundiram com quase tudo nesta vida. Mas, garanto com toda a convicção: foi a primeira vez — e talvez a única — que me fizeram essa pergunta. — Ainda não, respondi. E completei brincando: –Mas, se continuar com esse ar de santidade, acho que chego lá. A senhora estava à porta da secretaria da Paróquia São José e eu estacionava o carro para ir à igreja, antes de começar o dia aqui na Redação. Esse, aliás, é um hábito antigo que tenho, provavelmente originário da minha formação Marista. São nesses minutos de oração e reflexão que posso estar comigo mesmo e saborear instantes de paz antes de enfrentar a penca de compromissos diários.

É a batalha nossa de cada dia, como gostava de dizer um velho amigo, sempre que via um dos nossos à beira de um ataque de nervos. À saída do santuário, vejo outra mulher a conversar com um jovem, provavelmente seu filho e aniversariante. Escuto sem querer querendo o que ela diz: "Você começou a dar uns pontapés na minha barriga às duas horas da madrugada, mas só nasceu mesmo ao meia-dia. Foi o dia mais lindo da minha vida". Compreendi que os dois estavam ali rezando por dias melhores e agradecendo o milagre da vida — de algum modo, me emocionei. E tenho a convicção de que Deus saberá abençoá-los. Cheguei no Jornal e fui conferir o calendário. 20 de março. Bela data.

Uma pena ficar marcada na História pela lamentável declaração de guerra dos Estados Unidos ao Iraque. Confesso que não entendo essa guerra sobre a primícia de que é a inevitável lutado do Bem contra o Mal. Acompanho o noticiário sobre o assunto até por dever de oficio. E estou convicto de que faltam peças nesse quebra-cabeça, chamado "Motivos para a Guerra". Sei que o 11 de setembro é determinante nessa triste realidade. Diria até sem medo de errar que declarou-se ali a tal Guerra Santa, que pode vir a se transformar numa Grande Guerra. Lamentavelmente estamos muito próximos disso.

A fala do presidente Bush na madrugada de quarta para quinta deu ênfase ao tamanho da encrenca. Essa guerra vai demorar mais tempo do que gostaríamos que levasse, e não há prazo para terminar. Não entendo o que se passa na cabeça desses Senhores da Guerra. Sei que por mais precisas que sejam as novas armas, as novas tecnologias não evitam a morte de inocentes e a expansão da miséria em todo o Planeta. Falo não apenas da miséria material, mas principalmente da constatação que esgarça a alma e o espírito de todos nós.

Somos incapazes de construir a paz. De viver em paz. Fico a imaginar: se esses tais senhores tomassem mãe e filho como exemplo e acordassem com a proposta de, com sinceridade, agradecer a Deus pelo benção que é estar vivo, certamente não teriam tempo de fazer a guerra.