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A hora do espanto

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Procuro no zap a amiga que me encaminhou os versos da canção “Clube da Esquina” com os quais terminei o texto de ontem. Aqueles que dizem que “os sonhos não envelhecem”.

Agradecer a colaboração da amiga e leitora ao Blog, eu já agradeci.

É que agora, depois de consumada a farsa togada de ontem, queria saber se ela continua a acreditar naquele que foi o sonho coletivo de algumas gerações como a minha. A tal utopia da construção de um Brasil de todos os brasileiros.

Talvez, pelo que conheço da moça, ela deve partilhar do mesmo desalento que, de um tempo para cá, me invade e perturba. Mas, não me quebra porque sou macio.

II.

Enquanto aguardo a sumida responder, conto-lhes um causo mais ou menos recente.

Seguinte.

Um desses jovens intelectuais que habitam os corredores e gabinetes das universidades (talvez seja contemporâneo ao pessoal da República de Curitiba) me cobrou que os hoje velhuscos que batalharam pela redemocratização do País – e ainda que ingenuamente acalentaram o sonho supracitado, de um país mais justo, fraterno e igualitário – fizeram “a coisa pela metade”.

Não sei a propósito do que era o papo, mas veio com essa:

– A sua turma, era muito oba-oba. Paz e amor. Sexo, droga e rock’in’roll. Virou as costas para o Sistema para depois ser cooptado pelo próprio Sistema. Querem o quê?

III.

Estávamos, como de hábito, numa tarde morna de sábado, à mesa de um boteco desses mais goumert (prefiro os chinfrins). Um tantinho mais calibrados do que o normal (eu não, pois não sou do alcohol, mas gosto dessas conversas e ribaltas).

Certamente ali não era espaço para uma discussão mais acirrada sobre o sim e o não da vida. E, menos ainda, sobre o tempo ‘osso-do-caroço’ que hoje vivemos.

Mesmo assim, e pra não ficar em desvantagem, fiz a provocação.

Com o cinismo que me é peculiar em determinadas ocasiões, pedi ao peralta que discorresse sobre os grandes avanços democráticos e institucionais de hoje quando, em tese, é a turminha dele que faz e acontece. Na música, na literatura, nas artes, nas empresas. No mundo digital. E, por que não?, em termos de conquistas sociais.

IV.

Mal termino a bronca, vejo a expressão de contrariedade no rosto do gerente da birosca que se fez nosso amigo e não tardou em acalmar os ânimos:

– Embates entre gerações, aqui, não é o lugar. Por favor! Conversa de doido, sô! Vamos mudar de assunto? Falemos de futebol…

E o futebol seria o assunto da roda.

V.

Seria.

Se outro senhor à mesa (que mal conheço, registre-se) também não se manifestasse de pronto:

– Sábia intervenção, disse ele.

VI.

Intervenção? Pra quê?

Foi o suficiente para o Poeta, meu fiel escudeiro, aproveitar o mote e a reacender a polêmica:

– Por falar na dita-cuja, estou achando que os militares estão ‘pegando gosto’ pela coisa, lá, no Rio. Souberam do tuíte do milico? O que vocês acham?

O dito pelo o não-dito.

E, na hora do espanto, começou tudo de novo…

V.

Permitam-me fazer dois adendos:

1 – apesar de minimamente concordar com a análise do rapaz, acho toda a generalização burra e propícia a interpretações equivocadas.

2 – quanto à amiga, ela visualizou a mensagem; mas, desconfio, desistiu de responder, a bandida.

Ainda nenhum comentário.

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