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A moça do tempo mandou avisar

Aprontem os casacos, senhores e senhoras.

Acabo de ouvir a moça do tempo dizer que vem um frio daqueles a partir de amanhã.

Houve um tempo em que a meteorologia não era lá muito confiável.

Hoje, com as novas tecnologias e, principalmente, o deslizar das lindas raparigas pelos cenários virtuais, não há como não acreditar no que elas nos dizem.

Eu, pelo menos, já tirei o velho casaco de couro do armário.

Em tempos bicudos, como os que vivemos, de pandemias e tais, todo o cuidado é pouco.

Convém não vacilar.

Lembro que, há alguns anos, fui conhecer o Vulcão Ozorno, uma das atrações turísticas da Cordilheira dos Andes.

Estávamos em janeiro, num belo dia de sol. Temperatura agradável. Vez ou outra batia uma brisa mais gelada.

O pessoal queria ver a neve que, a bem da verdade, só existia na parte mais alta da montanha.

Ali só se chegava de teleférico. Que, confesso, é algo que não combina comigo.

Não sei o porquê.

Talvez seja pelo salto que é preciso dar para se chegar ou sair da cadeirinha em movimento.

Tenho a sincera impressão que ficaria ali encalacrado a girar. Eternamente, a girar.

Enfim…

Me acomodei para meu deleite no aconchegante bar da estação de esqui, onde aportamos, enquanto o pessoal correu para embarcar na engenhoca.

Antes ouvimoso guia recomendar que todos levassem agasalhos. Mais acima, a temperatura cairia.

Como não ia mesmo e estava tão bem instalado, ofereci meu casaco – o tal que amanhã volta à lida – para uma das moças que, ao invés de me jurar amor eterno, só sabia dizer:

— Nunca vi neve na vida. Não posso perder esta chance…

Lá se foi o grupo vulcão acima e eu ali, na plataforma, a apreciar a bela paisagem e, como nos meus tempos de criança, imaginando ver figuras na formatação das nuvens.

Hora e tanto se passou até que a turma retornou – e eu, como sempre, tão gentil – disse a moça para continuar com o casaco. Que me devolvesse no hotel.

Só que entre os 50 metros que separavam a estação das vans que nos levaria de volta, enfrentei um dos mais rigorosos frios da minha vida.

Anoitecia e o ar gelado trincou minha alma.

Mas, continuei a sorrir, cavalheiro que sou.

No dia seguinte, porém, uma velha conhecida minha veio me fazer companhia.

A Sra. Dor nas Costas.

Creio que muitos de vocês já a conhecem, não?

Pois é. Só que aquela foi especial.

Me derrubou.

Por três dias fiquei entalado a um leito de hospital nos confins do Chile, com a tal “crise de dolor lombar”.

Desde então não vacilo. Continuo gentil e cavalheiro, mas meu casaco couro eu não empresto…