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A MPB e CPMF

Desde ontem à noite faço parte do seleto clube de brasileiros que, ao menos uma vez em sua vida, foi telespectador, mesmo que casual, da notável TV Senado.

Verdade. Juro.

E não foi por acaso.

Acompanhei, por algum tempo, as discussões e a votação do fim da CPMF, transmitida ao vivo e em cores. Vi a movimentação e a fala empoada dos ilustres senadores.

Não julgarei, pois aqui não me cabe.

Direi apenas que toda aquela pantomima me fez lembrar um momento marcante da música popular brasileira.

Sentem, que lá vem história…

II.

Foi na finalíssima do Festival Internacional da Canção de 1969, se bem me lembro. Caetano Velloso e os Mutantes defendiam "É Proibido Proibir", música classificada numa das eliminatórias em São Paulo, no Teatro da PUC, no auge do Tropicalismo. O título e o refrão foram inspirados no slogan libertário dos estudantes franceses que tomaram as ruas de Paris em 1968, o tal ano que, dizem as lendas, nunca devia terminar.

O Maracanãzinho lotado – de universitários e jovens, em sua maioria – vaiou impiedosamente os músicos desde a entrada.

Rita, Arnaldo, Sérgio continuaram tocando de costas para a platéia como se nada estivesse acontecendo. Caetano percebeu logo que, ali, ninguém queria nada com nada. Improvisou, então, um sonoro discurso, bem ao seu estilo, colocando os tais pingos nos is. Não deixou pedra sobre pedra.

Um trecho foi arrasador.

— É essa a juventude que quer tomar o poder neste país? Se vocês entendem de política como vocês entendem de estética, então estamos …

Até hoje ainda não tenho plena certeza de como o baiano concluiu a frase. Se a palavra que usou foi mais comedida ou se eu entendi além da conta.

III.

Ao ver ontem as performances dos senadores na tribuna e como cada um deles defendeu vorazmente os próprios anseios eleitorais, lembrei da indignação de Caetano e a carraspana com que enfrentou o conservadorismo e a hipocrisia daquela época.

Adaptado aos tempos atuais, ficaria mais ou menos assim:

— É essa essa a Oposição que quer tomar o poder neste país? Se vocês entendem de políticas (públicas), como entendem de ética, então estamos…

IV.

Lembro que Caetano, naquele noite do Festival, terminou sua fala com uma triste constatação:

— Vocês não estão entendendo nada. Nada!

Ontem, eu apenas desliguei a TV. Fiquei, porém, com a sincera impressão. Eles também não entendem nada — e pior: fazem de conta que lutam por nós.