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A supremacia do Sol

“Vá atrás do que deseja. Não são essas três linhas que vão resolver sua vida.”

O astrólogo Oscar Quiroga tem uma maneira diferenciada para transcrever, em seus horóscopos, as recomendações que lê no zodíaco. Não raras vezes, surpreende. Em outras, é contundente. Mas, invariavelmente, tem uma conversa em tom revelador com o leitor. lmpressiona. “Parece que você escreveu o horóscopo para mim” – costuma ouvir dos fiéis leitores. Diariamente nas páginas do Estadão, em que escreve desde 86, transformou-se num dos mais respeitáveis nomes da Astrologia nativa. Quem acompanha seus escritos, reconhece: o mago argentino (no Brasil, desde 78) sabe o que diz.

“Todos nós concordamos com essa confabulação doentia, de não ouvir o que nos é direito. Daí, o meu tom de alerta”, esclareceu Quiroga na tarde de terça, dia 21, primeiro dia do novo ano astral. Seu depoimento:

MANUAL DE VIAGEM
O que eu escrevo é um manual de viagem. Coisa que se precisa saber, que se deve levar em conta sempre. Às vezes, a gente acha que é tudo simples… é só desejar. Tem essa fantasia, do sonho que se concretiza. Sim, tudo é possível. Porém, não há colher de chá para nada aqui na Terra. Tudo tem um preço. Tudo também tem seu ganho. Há situações que eu me dedico a lembrar sempre nos escritos. Foram escritas há 200, 300… 500 anos e fazem sentido ainda hoje. São
toques para as pessoas. Por isso, é possível um horóscopo de jornal fazer sentido. As coisas são sempre iguais. Não é à toa, ao longo de todos esses anos, pessoas de diferentes níveis sociais e culturais repetem a mesma frase: parece que você está, escrevendo para mim.

OS SIGNOS
Uma pessoa de Áries ou qualquer outro signo pode viver coisas diferentes – e vive. Mas, na sua essência, não são diferentes. Para os astros, brigar com o chefe ou quebrar uma perna revelam o mesmo aspecto. Morrer alguém da família ou perder dinheiro, também. Então, a interpretação que se faz do que escrevo vai por aí. Tento capturar tanto uma como outra. A situação objetiva não é o que interessa – e, sim, o espírito que movimenta isso. Só o acontecimento, na aparência, é diferente. A gente se acostuma a ver a vida de uma forma muito circunstancial, muito na superfície…

QUESTÃO DE ESTILO
Meus escritos têm um tom de alerta. Mas, é só uma questão de estilo. Gosto de ler, gosto de Literatura. Então procuro fazer algo diferenciado nesse aspecto. Prezo a comunicação. De outro modo, penso que as pessoas andam mesmo dispersas. Deixamos a peteca cair com a maior naturalidade, mesmo sabendo que é péssimo fazer isso ou aquilo. Todos concordamos com essa confabulação doentia, de não ouvir o que nos é de direito. Daí, o tom de alerta. Mas é apenas uma questão de estilo.

CALENDÁRIO
Os humanos conseguiram usurpar dos deuses o conhecimento do tempo – e fazer o que bem entendem a partir dai. Regularam seus calendários por datas históricas de acordo com as conveniências de alguns conquistadores, especialmente os romanos. Assim, o inicio do ano passou a ser relativo a assuntos humanos, não mais ao céu. Não é errado começar o novo ano em primeiro de janeiro, é humano – e arbitrário. Não há qualquer fundamento astrológico, nem astronômico. Se você quer começar um novo ciclo, seria lógico usar o tempo. Fatalmente, deveria ter como medidores o movimento dos planetas, pois são eles os árbitros desse tempo.

ANO ASTRAL
O ano astral começa verdadeiramente em 20 ou 21 de março. É neste momento que o Sol passa a ingressar na primeira casa do zodíaco, Áries. É quando se reinicia a órbita que a Terra faz ao redor do astro-rei. Os planetas estão todos realinhados. Em astrologia, esse fenômeno é um acontecimento estelar de inicio, com referência ao tempo e aos astros que vão impactar nossas vidas. O SOL Todos os anos astrais têm a predominância de um planeta. Ano passado, a regência era de Marte. Agora, a supremacia é do Sol. Então, vivemos um momento especial por ser o Sol o centro ordenador de nosso universo. A partir daí, qualquer ação que glorifique as virtudes solares vai dar ótimos resultados.Generosidade, simpatia, dramaticidade, a capacidade de ser o que se é, de compartilhar o próprio destino são alguns desses empenhos solares. É oportuno apostar neles neste período. Num ano adverso, se você for generoso, acabará se machucando. Estará usando uma virtude no momento errado. É aconselhável também não perder o bom-senso, nunca. Quando a gente está mais solar, perde a cabeça com facilidade. A gente se considera o próprio Sol, centro de tudo, simplesmente o máximo. É comum que a situação acabe agradecendo a você por ser o máximo. Se você perde o controle sobre essa ilusão, vai acabar
pisando no tomate e transformando essas virtudes solares no seu pior inimigo.

GRANDE LÍDER
Apesar de a Humanidade não estar mais em condições de produzir grandes personalidades, pode surgir, neste ano, um grande líder que vai surpreender o mundo. A regência do Sol e alguns aspectos dos planetas favorecem essa aparição. Num sentido mais geral e massivo, vale o refrão luxo para todos. O que implica em muitas coisas. Privilegia-se o luxo em detrimento da solução dos problemas.

ONDA MÍSTICA
Na verdade, o misticismo nunca saiu de moda. Sempre esteve presente. Obscureceu, momentaneamente, no começo do século, num período muito intenso, entre duas guerras que apagaram a memória da Humanidade. As práticas mágicas, astrológicas e místicas sempre existiram entre os mais diversos povos. Agora, assistimos a uma nova onda. Paulo Coelho é um efeito dessa onda. Eu também. A criação de um personagem que conheça o labirinto e suas saídas é fascinante num momento tão conturbado, como o que vivemos.

TERCEIRO MILÊNIO
Já existiu uma seita, os sumérios, que profetizava, há 5 mil anos antes de Cristo, um grande show cósmico que marcasse o novo momento da Humanidade. Essas imagem grandiosa, dramática, que o céu se abra e tenhamos um grande insighit – isso é pura ilusão. Aliás, fazemos isso também em nossas vidas. Esperamos que, de um momento para o outro, tenhamos a chance de mudar, de conquistar tudo o que sonhamos, de encontrar a grande salvação. Mas, a áurea do Terceiro Milênio não deixa de incentivar essa miragem dos humanos.

ERA DE AQUÁRIUS
É a mesma situação. Embora a Era de Aquarius não seja uma ilusão, é fantasioso acreditar que fenômenos impressionantes vão mudar nossas vidas daqui a 15, 20 anos. É o homem que faz a História, dia após dia. Os fenômenos já aconteceram. Tudo o que a gente tem e já está vivendo. Convenhamos, não é pouco. É muito conhecimento, muitas possibilidades. A mente da gente viaja por não ter a compreensão de tudo o que se tem às mãos.

SER MAGO
Trabalhar o tempo todo. Isso é o que diferencia uma pessoa comum de um mago. Tem que se vigiar, estudar, ler, praticar. Não se torna mago porque se quer. Mas, porque se deu ao trabalho de pesquisar, de distinguir o que é uma fantasia, o que é um sonho. Tornar-se mago é uma questão de sobrevivência psíquica no mundo atual. É extremamente saudável essa aproximação. Aliás, o melhor uso do oráculo é quando se faz para si próprio. Mas, é preciso ler muitos livros, fazer muitas comparações, pesquisar, estudar e, sobretudo, praticar.

VALOR DO MISTICISMO
O grande valor do misticismo é dar ao individuo a possibilidade de contato com o que é desconhecido para ele. É um instrumental com peso revelador, terapêutico. Um tear capaz de fazer a fiação dos problemas particulares com assuntos de seu cotidiano, genéricos ou não. Estamos sempre aos trancos e barrancos, daí quando se percebe uma ordem por trás da desordem temos ao menos um prumo, uma referência. Por outro lado, a parte maléfica do misticismo e suas práticas – sejam elas, runas, tarô, quiromancia… – é pensar que alguém pode manipular esses instrumentos para lhe dizer: aqui está a verdade. Ou para mudar a bel prazer o curso da História…