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A Taça do Mundo é nossa… (Fim)

V.

Não é que a professora tem razão.

O Brasil ganhou da Áustria (3×0), empatou com a minúscula Inglaterra (0x0) e derrotou a Rússia (2×0), com um baile de Garrincha, que o pai falou que era driblador, e de um menino que jogava no Santos, chamado Pelé.

Nas conversas da escola, do bar Astória (quando vou ver o pai jogar Patrão-e-Sotto), da barbearia do Seu Atílio, até da quitanda da Dona Amélia, as pessoas estão felizes e apreensivas. Só falam na tal Copa do Mundo e se perguntam:

— Será que agora vai?

Aí lembram que em 1950, ano em que nasci, a Copa do Mundo foi disputada no Rio de Janeiro e o Brasil perdeu no último jogo para o Uruguai (2×1). Algumas ficam com os olhos vermelhos quando lembram. Outras perdem a voz. Há quem abaixe a cabeça e tente mudar de assunto.

Mais de uma vez, escutei a frase:

— O brasileiro tem complexo de vira-lata. Principalmente no futebol. Treme quando chega a hora da decisão.

Dizem que foi um jornalista chamado Nélson Rodrigues que fez essa triste comparação. Nessa hora, eu tento desconversar e lhes digo o que aprendi na escola:

— Futebol não tem lógica.

VI.

Vou ser sincero.

Queria que esse torneio – como disse o pai, “que é diferente de campeonato” – não acabasse nunca. Estou gostando da farra.

Que venham mais adversários. Venceremos todos.

Quando ganhamos do País de Gales. Um a zero, mixuruca, mixuruca. Os batuqueiros da Império do Cambuci saíram pelas ruas do Cambuci. Parecia carnaval.

Depois da goleada em cima da França (5×2), eu, o Betão, o Claudinho e o Bilex saímos comemorando pelas ruas. Aliás, todos comemoravam. Havia cadeiras nas ruas, formando rodas de vizinhos a beber, rir e cantar:

“A Taça do Mundo
é nossa… Com o brasileiro
não há quem possa…
Eeta, esquadrão de ouro…
É bom no samba…
É bom no couro…”

VII.

29 de junho de 1958.

Um domingo que começou apreensivo, sob a ameaça de um novo Maracanazzo.

Terminou numa grande festa.

Brasil 5 x Suécia 2.

Pela primeira vez o Brasil era CAMPEÃO MUNDIAL DE FUTEBOL.

Às favas o tal complexo de vira-lata.

O mundo, finalmente, descobriu o Brasil, como diz o jornalista Paulo Planet Buarque, no belíssimo documentário de José Carlos Asberg que retrata essa façanha.

VIII.

Não sei se vocês me entenderão.

Havia uma áurea de felicidade em toda gente.

Não houve essa comemoração programada tão comum nos dias atuais.

As pessoas apenas saíram às ruas e pulavam…

e cantavam e pulavam…

e sorriam e pulavam…

Nossa como pulavam!!!

IX.

O pai era um desses felizardos.

Nem se importou em mudar de opinião.

Nem ligou que Mazzola, depois da Copa, não jogaria mais no Palmeiras; pois vendido ao Milan da Itália.

— Vamos comprar um time todo com esse dinheiro.

Para ele – e para o mundo –, o futebol tinha um novo rei:

PELÉ

e um gênio das pernas tortas:

GARRINCHA.

X.

O menino também estava feliz.

Pela primeira vez, sentia-se um campeão.

E fez uma promessa para ele mesmo:

lembraria daquela Copa para sempre…

… nem que passassem 50 anos e um dia.