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A varanda (Parte II)

Caríssimos,

Continuamos hoje com o segundo episódio de nossa primeira – quiçá única, e última – novela blogueira. Como vocês puderam notar no capítulo anterior, a cena se passa em uma varanda à moda antiga, onde não só o casal vive uma situação limite: o fim de um romance que não podia ter fim. Ao redor do que os dois conversam ali, naquele exato instante, outros personagens da família propõem-se involuntariamente a refletir sobre o rompimento e os sentimentos que parecem lhes escapar pelo vão dos dedos.

Como num ritual cabalístico, é a vida que renasce mesmo quando perdemos tudo o que, um segundo antes, acreditávamos fosse eterno.

Nós, platéia e leitores, somos os vizinhos curiosos a bisbilhotar a vida alheia. Há até espaço para comentários. Fiquemos, pois, à vontade…

CENA 3 – Ela fez o que deveria ser feito…

Precisava não chorar — ao menos, na frente dele.

Sabia que o jogo era pra valer. Queria ser forte. Nem pensar em voltar atrás na decisão que, aliás, vinha amadurecendo há algumas semanas. Era tudo ou nada…

Amaram-se demais, é certo. Porém, já não eram os mesmos. Coisa comum de acontecer. Andavam cada vez mais distantes. O encanto havia se quebrado. Não havia porque insistir, continuar…

"Acho só que é tempo perdido. Você é quem sabe…"– dissimulou a mãe, ainda ontem, durante a ceia do reveillon. Apesar da data, estavam todos tristes. Não havia o que festejar.

"Sem chance, parte para outra. Mas, lembre-se, os homens são todos iguais".

A irmã não fazia segredo. Gostaria de vê-la livre daquele estorvo. O pai nada falou — aliás, como era de seu hábito. Nunca foi a favor daquele romance. Mas, não lhe pediram qualquer opinião. Não seria agora que se faria ouvir.

As vozes misturavam-se às lembranças, doces lembranças, de um passado não tão distante. Nunca imaginara ter que dizer a ele o que estava a lhe dizer e, aparentemente, não sentia qualquer abalo.

Podia ser diferente, menos dolorido. Ele relutava em ir embora. Ela já se desesperava. Não agüentaria a pressão por muito tempo. Um vacilo — e pronto. Abriria os braços em sua direção e tudo voltaria à rotina de sempre. Um dia-a-dia que já não preenchia a enorme sensação de vazio. Segurou-se o mais que pôde. Não moveu um músculo sequer em sua direção.

Como um bicho assustado, encolheu-se num canto e virou o rosto para a parede. Fez-se o silêncio. Já não se olhavam. Ouviu passos e o ruído do portão se fechando. Só então desatou a chorar. Estava tudo acabado. Era hora de repensar a vida. Não queria que fosse assim.

Mas, certo ou errado, era o que precisava ser feito.

Sentia-se sinceramente triste. Mas, ao mesmo tempo, livre, leve. Não cabia arrependimento, apenas esperança. Era hora de terminar para recomeçar.

Então, lembrou que era primeiro de janeiro.
Ano novo. Vida nova.

"Até que enfim ", suspirou chorosa. Mas, confiante na morenice de seus vinte e poucos anos:

— A vida continua, entusiasmou-se.