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A vizinha

Perdi o sono – e não o encontrei mais.

Por isso estou aqui a blogar, e passam das quatro da matina.

Não sei se foi o dia exaustivo que tive – encerramento de ano letivo não é fácil na Universidade. Aceleram-se fechamentos de notas e das atividades letivas e, simultaneamente, prepara-se o semestre que virá.

Não é tão simples quanto imaginam os alunos.

Não sei se é o tal do clima de fim de ano que sempre me deixa nostálgico. Ou se foi o tanto de risadas que dei há pouco vendo, na TV, o Jô Soares entrevistar uma apresentadora e dançarina russa que vive no Chile e diz adorar o Brasil. Jô estava impagável e um “tantinho” mais assanhado do que costumeiramente é quando entrevista uma bela mulher.

Acrescento que isto não é uma crítica. Apenas um comentário com uma “invejinha positiva” da minha parte. A russa era belíssima – e estava soltinha, soltinha.

Aliás, toda vez que vejo o Jô Soares – especialmente quando sobrepõe tiradas de humor, uma após outra – lembro do saudoso amigo Nasci, sempre presente em minhas crônicas. Ao que me disse o próprio Nasci em tempos idos, os dois trabalharam juntos na fase áurea da TV Record. Se não me engano, na produção do Blota Júnior Show.

Na verdade, eles se parecem muito nos gestos, nas brincadeiras e no jeito sedutor diante das moçoilas. Diria que são da mesma escola, a dos inveterados românticos.

Acrescento que a expressão “invejinha positiva” – não seria preciso dizer, mas digo – ouvi pela primeira vez do próprio Nasci.

Foi a explicação que deu para um dos nossos colegas na velha Redação assoalhada, o Cebola.

O rapaz vivia lhe perguntando sobre a morena que era vizinha da casa onde o Nasci morava. A moça era dada aos sorrisos e, inevitável, assim que o Cebola a viu pensou bobagem e queria porque queria ter notícias delazinha.

Bastava o Nasci chegar e ele lhe enchia de perguntas.

— O que é isso, rapaz? Olha o respeito! Ela é uma moça séria, casada. Ponha-se no seu lugar.

Para encurtar a história, o tempo passou. Ela se mudou de rua e de bairro. Não se tocou mais no assunto. Até que um dia alguém da Redação veio com a novidade. A moça havia se separado e se envolvido num romance incandescente e cousa e lousa e maripo(u)sa.

Nós ficamos surpresos.

O Cebola, inconformado.

Queria saber onde ela morava, quem era o cara, qual a reação do marido e mais e mais e mais. Disse que tinha certeza que ela dava umas brechas para ele – e que o Nasci não ajudou.

O Nasci permanecia tranqüilo a jogar com a fumaça do cachimbo holandês que gostava de exibir. Parecia saber da história. Só interrompeu a brincadeira para confirmar as suspeitas do amigo.

— Tem razão, Cebola. Não ajudei mesmo. Até que ela andou me perguntando sobre você antes de mudar. O casamento não ia lá aquelas coisas. Mas, desbaratinei.

— Como assim? Desbaratinou? Somos amigos. Todos aqui são amigos de fé. Por que você não me disse nada, Nasci.

— Posso ser sincero?

— Claro, claro.

— Acredite, foi melhor assim. Era muita areia para o seu caminhãozinho. E quer saber? Não falei porque estava com uma invejinha positiva de você.

[Texto publicado no livro "Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões"]