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Acima do bem e do mal

01. Foi uma quarta-feira para não se esquecer. A Câmara Federal cumpriu, mais uma vez, a digníssima "função social" de lutar pelos interesses corporativistas de seus integrantes. E destemidamente (porque sequer tomou conhecimento dos protestos da opinião pública e do ano eleitoral) inocentou dos processos de cassação os deputados Pedrinho Abrão e Chicão Brígido e da suplente Adelaide Neri. Abrão era acusado de falta de decoro parlamentar por haver cobrado propina para manter os recursos destinados à baragem do Castanho (Ceará) no Orçamento da União em dezembro de 96. Brígido chegou a confesar que literalmente alugava seu mandato para Adelaide e ficava com parte do salário dos funcionários do gabinete, a quota de passagens aéreas e metade do salário extra quando de convocações extraordinária. Por meio de votação secreta, os três foram premiados pelos colegas. E continuam livres, leves e soltos…

02. Houve até em plenário quem lamentasse a "truculência" com que a Casa tratou o caso Sérgio Naya, aquele dos prédios que se esfarelaram no Rio de Janeiro, cassado exemplarmente — e agora unicamente — há algumas semanas. Sob os holofotes da mídia e da população, o lema um-por-todos/todos-por-um não funcionou naquela ocasião. No entanto, se fez valer agora. Talvez porque não temos uma imagem de tamanho impacto como a do Palace II virando pó. Talvez porque a dor que Romário sente na pantorilha seja a maior preocupação dos brasileiros, já envolvidos pelo clima de Copa do Mundo. O certo mesmo é que esses senhores continuam se auto-proclamando acima do bem e do mal, das reformas e das instituições; acima dos interesses de qualquer um de nós, pobres mortais que compõem essa massa de manobra que se diz sociedade.

03. Justamente no mesmo dia em que o presidente Fernando Henrique inaugurou um estilo americano de falar à imprensa as verdades que lhe interessam, justamente nesse dia a Câmara joga por terra toda e qualquer aspiração de uma Nação que se pretende contemporânea, voltada para o social, para um futuro digno que se espraie a todos os brasileiros…

04. Esses senhores que freqüentam o Poder e/ou se intitulam o próprio Poder subestimam nossa capacidade de reverter esse quadro de caos e inoperância que hoje vivemos. Têm a eleição (ou a reeleição) como favas contadas e estão pouco se lixando para o que pensamos, queremos ou precisamos. Não há nada que um bom assessor de marketing e alguns milhões de dólares gastos na campanha eleitoral não dê jeito. É voz comum, sempre foi assim. Não será agora que irá mudar…

05. Que venha, pois, 3 de outubro. Quem sabe a rouca voz das ruas não saberá entoar outra canção. Afinal, como ensinou o poeta, amanhã será outro dia. Tomara, todos nós façamos jus às nossas responsabilidades.