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Anjos

O soar da campainha causa certo alvoroço no grupo de 30, 40 pessoas. Olham ansiosas para o placar eletrônico a exibir os números sem uma ordem lógica, plausível.

— Fui um dos primeiros a chegar e não sou chamado.

— Meu caso é grave, não estou nada bem.

— Eu tenho senha preferencial. Velho, ninguém respeita.

Os resmungos pela demora no atendimento são entrecortados por gemidos.

Gemidos de dor.

Olhares de apreensão.

Um constante entrar e sair de gente.

Estamos na sala de espera do pronto socorro de um hospital de porte médio em São Paulo.

Ouço a explicação do filho – um senhor sessentão – para o doutor sobre a mãe que aguarda atendimento, sentada em uma cadeira, de olhos fechados.

— Ela se queixou de dor na nuca. Achei melhor trazê-la.

— Fez bem, esclarece o jovem doutor com pouco mais de um terço da idade do senhor.

Bingo.

18 por 10 de pressão, e uma série de exames a serem feitos.

Por baixo, e se tudo estiver nos conformes, antes das nove da noite a dupla não vai deixar o lugar.

Passam alguns minutos das quatro da tarde.

O cronista vê a cena e se assanha.

Afinal, a luta pela vida por aqui pulsa mais latente.

Há gente de todas as faixas sociais, de todas as idades.

Estão cada um por si, mas acompanham solidários o drama alheio.

A turma da inalação (“o ar desta cidade está cada vez pior’), as garotas que se contorcem por causa das cólicas, o pessoal descadeirado pelas dores lombares, os hipertensos lívidos e arfantes, os que se acidentam em casa e no trânsito…

Um turbilhão de dores e aflições.

Chega a ambulância. Todas as atenções se voltam para a maca. Que corta a multidão em segundos e provoca certo descontrole em todos.

Há uma mancha de sangue no lençol.

Alguém se apressa em dar detalhes do que ocorreu.

Acidente de trabalho. Caiu uma máquina na perna do pobre rapaz. Fratura exposta.

E o dia ainda nem terminou…

Em meio a tudo e a todos, dando nó em pingo d’água, segurando a barra que pintar, estão os anjos de branco – os médicos, as enfermeiras, os paramédicos – tentando minimizar o drama nosso de cada dia. Sempre com uma palavra de afeto, um gesto de conforto e a dose exata de esperança que tanto necessitamos nessas horas.

Por isso, a eles – todos eles – esta singela homenagem.