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Ao Deus-dará…

"Na barriga da miséria, nasci brasileiro… Eu sou do Rio de Janeiro" (Chico Buarque)

01. "Descontrole" é a palavra de ordem na semana. O atual secretário de Segurança Pública do Rio, Anthony Garotinho, reconheceu a condição de "descontrole" sobre o crime organizado que vem agindo na Cidade Maravilhosa com consequências sempre e sempre nefastas.

02. Há quem veja nessa confissão o méa-culpa da incompetência. Até porque no início do ano o Governo Federal se dispôs a ajudar o Governo do Rio. Especialmente depois do caso Tim Lopes, jornalista cruelmente assassinado por traficantes, a opinião pública — com os holofotes da mídia — teve consciência do tamanho da encrenca que a sociedade tem pela frente. As autoridades precisariam mostrar força, rigor e, principalmente, que têm o domínio das ações.

03. A esposa-governadora Rosinha preferiu abrir mão dessa, digamos, interferência. Estava assumindo o cargo e, por uma série de motivos, não quis demonstrar qualquer sinal de insegurança. Sei que é uma leitura simplista do caos em que se transformou o Rio de Janeiro que, mesmo assim, continua lindo. Mas, vale para contextualizar o problema.

04. O que acho importante ressaltar é o seguinte. Hoje a questão da segurança pública extrapola todas as alçadas de governo — municipal, estadual e federal. Possui um explosivo teor social que escapa à compreensão do mais austero pesquisador. Nenhum brasileiro em qualquer canto do País está a salvo. Claro que há o componente da miserabilização de milhões de brasileiros, sem qualquer expectativa de uma vida digna. Mas, há que se reconhecer não só o "descontrole", mas também e principalmente a falência do Estado como administrador sério, profícuo e provedor do bem estar dos brasileiros.

05. Para quem quer entender melhor o que está acontecendo, recomendo a leitura do livro "Narcoditadura" do jornalista Percival de Souza. Além de investigar a morte de Tim Lópes, Souza mostra as origens do chamado "crime organizado" no País (ainda nos anos 70) e o quanto as autoridades subestimaram — sabe-se lá por quais motivos — o poderio da bandidagem. Essa omissão hoje tem um alto custo social e revela o quanto estamos, todos, ao Deus-dará…