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Ato falho

Era a primeira vez que se encontravam à espera do elevador social donde moravam – Tito há mais tempo que Drica, recém-chegada ao vistoso prédio envidraçado naquela rua perdida em bairro nobre paulistano.

Cumprimentaram-se; primeiro cerimoniosamente, depois engataram uma rápida conversa sobre o clima, o aumento da taxa de condomínio, as vagas na garagem, a questão da segurança, “sempre um problema numa cidade violenta como São Paulo”.

Concordaram em quase tudo. Quando não, silenciaram educadamente, sem perder o leve sorriso de quem estava gostando do inédito da situação. Diria que se sentiram, assim, levemente atraídos e felizes.

Entraram calados no elevador, pintou um climão dúbio e ambos trataram de se entreter com os próprios pensamentos. Pareciam ouvir uma trilha sonora, muito, muito especial.

Drica balançou a cabeça como a lamentar quando o elevador chegou ao seu andar. Notou, sem surpresa, que ele a observava fixa e docemente. Gostou de se sentir admirada. Aproveitou a deixa para despedir-se.

Enquanto a porta se fechava às suas costas, ouviu a voz dele em tom sonhador dizer:

“Eu casaria…”

Ficou lisonjeada, e feliz.

Algo nele lhe dizia que a moça fora sensível aos seus olhares e – por que, não? – desejos.

Também se sentiu, andares acima, feliz, e lisonjeado.

– Esse é o Titão velho-de-guerra. O perigo das moçoilas…

Só caíram em si, quando já dentro dos respectivos apartamentos, receberam as boas vindas dos respectivos parceiros. Só aí caiu a ficha e o mundo real lhes lembrou do inexorável da situação.

Ambos eram casados – e sem a menor vocação para a arte da trampolinagem.