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Carta ao Escova sobre a Greve Geral

Escova, amigo querido…

Sei que aí, em seu exílio voluntário (França ou Portugal, não lembro mais), o amigo deve estar ávido por notícias de como foi este 28 de abril, dia da anunciada Greve Geral (que a Globo e seus cupinchas midiáticos tentaram esconder) contra os malfeitos do governo ilegítimo e golpista.

Se bem o conheço (e o conheço bem!), a pergunta que certamente me faria seria:

“Alguma chance, campeão?”

Vou tentar ser breve, companheiro de tantas e tamanhas jornadas, mesmo sabendo que não o serei.

Somos do tempo das laudatórias reportagens, lembra-se?

II.

Não foi propriamente uma greve geral no sentido histórico da palavra. Mas, que pintou um climão de nada a fazer nesta sexta, pintou. Foi uma paradeira legal, ampla e irrestrita (lembra que usávamos essas mesmas palavras nos tempos da redemocratização?), que me trouxe, ainda que minimamente, algum alento.

Mesmo o mais avoado de nós, sabe bem que essas reformas querem atingir ao trabalhador em seus direitos mínimos e essenciais.

Publiquei na quinta um texto que mostra as perdas para os jornalistas, mas essas ‘mordidas’ pegam a todos os que trabalham com a CLT, em maior ou menor grau.

Resumo: ninguém foi consultado, a maioria não gosta do que ouve e desconfia.

III.

Por isso, esta sexta pareceu-me o primeiro passo de uma longa jornada. Põe longa nisso, caro amigo… Ainda haverá muitos enfrentamentos.

Mas, é um começo.

Um recomeço, diria.

Enfim… É como nos dizia o Nasci, nosso saudoso irmãozão, mestre e guru, lembra?

“Mesmo o mais longínquo dos caminhos, para se percorrê-lo há que dar o primeiro passo”.

Sei, sei que de sábio chinês, o Nasci não tinha nada, mas vez ou outra ele arriscava seus provérbios.

E a gente sorria e seguia em frente. Um: porque éramos jovens. Dois: porque éramos jovens e inconsequentes. Três: porque éramos jovens, inconsequentes e aventureiros. Além do que se fazia hora de acreditar em um Brasil de todos os brasileiros.

Hoje, existe uma turba que não pensa assim. Enxergam um Brazil (com z), dos fofinhos, dos privilegiados, dos teletubbies e das fofoletes. Para esses, tudo. Para os demais, a massa ignara e rude, as migalhas que os ventos da igonomia espalham.

IV.

Exagero?

Não sei, não.

Não quero aqui me mostrar otimista. Nem tampouco referendar um pessimismo que grassa por si só, livre, leve e solto a dividir diversos segmentos da nossa sociedade.

Quero dizer que estamos aí, vivos. Na luta. Combatendo o bom combate.

Simples assim.

V.

A lamentar, mais esta vez, o papel da nossa Imprensa (que com raríssimas e elogiáveis exceções) ao tentar criminalizar as manifestações que se espalharam por todo o Brasil.

Até aí, você há de me chamar a atenção que, regra geral, os grandes conglomerados de comunicação do País só podem ser chamados de ‘grandes conglomerados’ porque em algum momento (ou em muitos ou sempre) da própria história se mancomunaram com os Donos do Poder (para usar uma expressão talhada pelo notável Raymundo Faoro em memorável obra).

Eu lhe dou razão.

Mas, faço a ressalva. Naqueles idos e havidos tempos, nas Redações, havia uma resistência às demandas patronais. Havia quem colaborasse, mas havia os que se rebelavam. E não eram poucos.

Hoje, vejo a rapaziada muito à vontade, feliz mesmo por ser servíl às ordens superiores.

Foi um tal de ‘vandalismo’ pra cá, ‘vandalismo pra cá’.

VI.

Sorte que as redes sociais e os veículos independentes fizeram o contraponto. Mostraram o outro lado da verdade.

E o outro lado da verdade é que estamos aí. Na luta…

Volte logo, companheiro.

Que precisamos de você por aqui. Se não para por nosso bloco na rua (que já não temos idade para isso), ao menos para estarmos juntos e dar força para essa meninada valente. Que ousa resistir e sonhar.

Saudades.

Abraço do amigo de sempre…

rodolfo