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Crônicas de Viagens – Valladolid

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Fotos: Arquivo Pessoal

46 – Na casa de Cervantes

Meus caros…

Juro estar tão surpreso quanto vocês por chegar até aqui. Quando me propus transformar em historietas meus alinhavos de viagem, estimei não ir além de uma ou duas dezenas de relatos.

Pois é, meus caros, chegamos em setembro, logo entraremos na Primavera e eu continuo com o mesmo assunto em nossa coluna.

Ops… Perdoem-me o linguajar das antigas.

O termo certo é: posts no Blog.

Colunas são do tempo em que escrevíamos para os veículos impressos.

De qualquer forma, cá estamos com uma nova/velha temática – a visita que fiz à casa de Cervantes em VALLADOLID – e ainda me restam belas passagens que, no entanto, e se me permitem, pretendo transformar em textos mais prafrentemente com o devido acuro e cuidado.

Explico o porquê.

Escrever diariamente traz um tanto de desafio e outro tanto de temores – creio mesmo que já falei disso em conversas anteriores. Mas, só para arrematar, acrescento que há um jogo compulsivo e incontrolável nessa “arte de falar consigo mesmo e com os outros que é o escrever”.

Às vezes, você precisa voar – e escreve, escreve, escreve. Em outras, não consegue sair do chão e não arremata uma linha sequer que faça sentido.

Muitas vezes, a criatura (o tema) se impõe ao criador (o autor) imperiosamente. Mesmo que este tente fugir para outros mundos e arengas, não conseguirá ir muito além.

E querem saber?

Só vai voltar a ser feliz quando tirar esse espinho da garganta e ‘encarnar’ em letras e sinais os fantasmas que lhe assombram e – vejam o contrasenso – o libertam.

Foi um pouco dessa realidade que me trouxe aos cômodos em que Cervantes habitou em Valladolid, onde, dizem, deu retoques finais à obra magna da Literatura Universal: Dom Quixote.

A Espanha vivia tempos difíceis.

O reinado de Felipe III dava sinais de decadência assolado por um suceder de guerras vãs. O próprio Miguel de Cervantes Saavedra enfrentava lá seus percalços.

Saíra de Sevilha para Valladolid para escapar a pendengas judiciais e financeiras.

Na então capital do reino, se viu diante de uma pesada acusação criminal.

Lá, próximo à sua moradia apareceu o cadáver de um homem que teria sido assassinado, segundo a polícia, por estar envolvido com a irmã ou uma das duas filhas de Cervantes.

Aflições e tanto a fustigar a tranquilidade de qualquer um.

Nada, porém, que o impedisse de viver o melhor dos mundos nesta modesta casa onde agora me encontro. Refúgio e porto seguro, toda vez que sentava-se diante da ampla mesa de madeira maciça e transformava em livro os delírios do herói de La Mancha.

Não posso deixar de registrar.

Em Valladolid, na Espanha, existe uma Madona com semblante radioso, feliz e cativante. Está na capela de entrada, à esquerda, da histórica igreja de San Pablo, a mais antiga da cidade, em estilo gótico e majestoso.

Na base de cimento, sob os pés da imagem, há inscrição:

SANTÍSSIMA VIRGEM DA ALEGRIA

É isto mesmo…

SANTÍSSIMA VIRGEM DA ALEGRIA

Há quem leia e releia a placa, e lhes digo:

Demora um tantinho até assimilar o que ali está escrito com todas as letras.

Santa Alegria.
Bendita Alegria.
Bem-vinda toda Alegria.

Um dom que nos era natural, espontâneo e hoje…

Talvez o mundo que se diz moderno tenha mesmo descartado a Alegria de nossas vidas. A autêntica Alegria. A Alegria das coisas simples, sensatas, sinceras.

Partamos daí, amigos leitores…

Todo o resto vem de graça.

Ou melhor, da graça que tem a graça de ser feliz.

Bendita e Santa Virgem da Alegria

Rogai por nós!

* Publicado em 01/03/2008

1 Response
  • VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
    19, setembro, 2020

    Que lindo! O divino mora na alegria!

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