Sign up with your email address to be the first to know about new products, VIP offers, blog features & more.

De volta ao Pacaembu…

O Palmeiras voltou ao Pacaembu (e venceu bem o Grêmio por 3 a 2).

Eu também.

Cheguei cedo.

Fiz o trajeto de sempre. Desço a pé aquele ladeirão que sai da avenida Higienópolis e dou de cara com a Praça Charles Miller e já não sou o mesmo senhor austero quando encaro, de frente, o velho estádio, cenário de tantas lembranças, de tanto encantamento.

Alguma coisa, algum sentimento, me aproxima do garoto que fui, embora quem caminhe ao meu lado seja o meu filho – e não o saudoso Velho Aldo.

Para o meu pai, homem de poucas palavras e tantos estranhamentos (o que dizia ser próprio dos calabreses, dos quais era descendente), o estádio é “a nossa segunda casa”.

– Aqui, já fomos campeões tantas e tantas vezes, dizia como a me tranquilizar diante do eterno desafio que é uma partida de futebol.

Repito a convicção ao meu filho, mas ele já é homem feito e, às voltas com o celular, apenas sorri.

Gosto quando ele sorri conivente com as bobagens futebolísticas (e outras tantas mais) que digo.

Enquanto caminhamos, conto a ele que o vô Aldo só chamava o Pacaembu de Pacaembu. Detestou a mudança de nome para “Estádio Paulo Machado de Carvalho”.

Meu pai não perdoava o Doutor Paulo ter encabeçado uma campanha para tomar o então Parque Antártico do Palmeiras, à época da Segunda Grande Guerra, e repassá-lo a uma outra instituição esportiva.

“O homem era são-paulino doente. Era diretor do clube e tudo. E liderou na Rádio Record uma campanha para a desapropriação”.

O Velho Aldo ficava visivelmente emocionado quando se tocava nesse assunto.

Indignava-se.

Acho até que exagerava um tantinho para falar da bravura dos italianos e descendentes que, de braços dados, formaram um cordão humano em defesa do Parque Antártica.

Foi um ato heroico, dizia o pai.

(…)

Dei uma pausa na história assim que entramos no estádio propriamente dito. Curioso que, assim que atravessamos as catracas, havia uma comissão de moças a nos esperar e nos oferecendo um cartão narrando, em duas faces, a arrancada histórica de 1942 quando “o Palestra Itália morreu líder, e o Palmeiras nasceu campeão”.

Como disse lá em cima, gosto quando o meu filho se diverte e sorri das bobagens que digo.

Mas, gosto mais ainda quando lembra a picardia do avô ao me provocar por tudo e por nada:

– Aê, pai, fala a verdade: o senhor já sabia dessa promoção. Por isso veio com essa conversinha. Foi ou não foi?

Agora, foi a minha vez de me fazer indiferente. Aliás, já devidamente acomodado na velha arquibancada atrás do gol de entrada, eu liberei para continuar às voltas com visor do celular enquanto eu saborosamente me deliciei com um sorvete e tantas e tantas lembranças.

Foi assim até que os times entraram em campo…