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Deixe o sol entrar…

(*) TEM RECADO NO BLOG.

“Como é difícil não ter 18 anos”,
diz uma velha canção de Ednardo,
o cearense autor de ‘Pavão Misteryoso’.
Mas, quando o temos, como saber
das artes e manhas da vida
nessa fase única do sonhar e viver?

É um pouco este o tema
de hoje. O objetivo mesmo é
contar uma história que faça
alguém voltar a sorrir…

I.

Os braços da mãe doíam
a não mais poder de tanto
que a menina chorou amparada
e acolhida no colo materno.

O motivo? O básico:
o primeiro amor que se foi…

Tem desilusão maior?

II.

Que tem tem. Mas, não
contaremos para ela que é tão
jovem e bonita, de riso cativante
a iluminar tudo ao redor
quando está feliz.

Nessas ocasiões, por osmose,
o ambiente, então, se faz
intenso e pleno. Mais claro.

Pena que, nos últimos dias,
ela não está assim. É só um pouquinho
de exagero dizer que a menina
fez um estardalhaço.

Foi, digamos. um bom agito.
Falou com o pai distante ao telefone –
ele ficou de vê-la no fim de semana.
Alugou, como já disse, o colo da mãe e,
de resto, de toda a família.

Chorou de mãos entrelaçadas
com o tio, a tia, o irmão,
a avó, os primos.

III.

Via-se logo.
Uma tristeza sem fim
até para atender ao telefone –
uma de suas obsessões.

No entanto, a voz lhe saía que
era um fio de tão avulsa e oca
que a menina se sentia.

"Pôxa, foi tão bom, tão bom.
Como acabou assim?" – pensava.

Nessas horas, há sempre uma
tendência de jovens e não tão jovens
amantes, devidamente despinguelados
pelos respectivos, recriarem toda
uma mitologia em que só bons momentos
são rememorados – e nos parecem
únicos, densos. Tanto que, custa-nos
crer, um dia serão redivivos
com outra pessoa senão com
aquele(a) ‘banana’ que ganhou o mundo
e nos deixou. Ou vice-versa.

IV.

Se formos ao banco, até aquele
gerente, que costumeiramente
nunca nos olhou, dado que
sabe de cor o nosso decrépito saldo…

Pois é, até esse gerente nota e
é capaz de perguntar:

— Aconteceu alguma coisa?
Você está tão magrinho(a)?
Precisa de alguma coisa?
Posso ajudar?

Que ironia.
Nós que o buscávamos como
loucos, agora o temos à nossa
disposição. E o mais grave…

O mais grave mesmo é que
nem lhe damos atenção. Poderíamos
aproveitar a ‘deixa’ e pedir unzinho,
para pagar a perder de vista,
e por em dia o saldo negativo.

Nem nos tocamos da chance.

O tal do ser amado é tudo…

Sabemos que nunca mais
o gerentão vai incorrer no mesmo
deslize. Nem assim aproveitamos.

VI.

Voltemos à nossa heroína,
de rostinho moreno emoldurado
pelos fiapos vermelhos
dos cabelos despontados.

Ela foi dormir que era só tristeza.
Oh! dó!

Mas hoje – incrível – amanheceu
feliz. Descobriu que a vida
não acabou e ainda pode, deve
e vai se apaixonar de novo.

Acordou tão senhora de
si e confiante que a mãe teve
ímpetos de lhe dar umas
chineladas nos glúteos
para deixar de ter chiliques.

Passou a mãe a noite às claras
a corroer os soluços da filha e
agora ela lhe aparece assim…

No fundo, no fundo, a mãe quis
agradecer a Deus e a todos
os santos, querubins e serafins
pela recuperação da menina.

VII.

Preferiu, porém, disfarçar:

— Agora trate de avisar
a família que está bem…

— Calma, mãe, retrucou.

— Posso saber se conheceu
alguém ou o que foi?

— Tem uns meninos aí,
mas nada. Apenas amigos.

— Então, o que foi, filha?
Bom ver você sorrir de novo.

— Ah, então, mãe.
De repente me deu um alívio…

— Alívio?

— Alívio, sim. De saber que
não tenho mais sogra.

VIII.

Toda essa alegria, e ela sequer
se deu conta de que não há
felicidade maior do que abrir a janela
e deixar o sol entrar, mesmo que
o dia seja de chuva, como hoje.

É a vida que se renova.

Não há melhor sensação de liberdade
do que se abrir para o mundo
na expectativa de viver
um novo sonho de amor.

Que, no caso da menina,
sei bem, não demora
nada a chegar.