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Diante do quiosque…

— Ei, moço, não é tão difícil assim ser feliz.

O tom de voz era quase infantil.

Mas a moça que estava ali à sua frente, e lhe chamava atenção, já não era uma menina.

Passava um tantinho dos vinte, o rosto angulado e belo, e agora lhe sorria docemente à espera de uma eventual resposta enquanto o cabelo de mechas alourado dançava ao vento da manhã.

Ficou surpreso.

Perdera a noção dos minutos – seriam horas? – que estava ali no calçadão em frente ao mar, remoendo o peso dos anos, pensamentos e angústias próprios ao dia cinza, como aquele.

Ajeitou melhor o ray-ban em cima do nariz.

Com o gesto, pensou em ganhar preciosos segundos para entabular uma resposta que impressionasse a desconhecida que já lhe impressionara.

Ela antecipou-se, porém; e se fez ainda mais simpática.

E se fez ainda mais linda.

— Todo fim de férias é assim. A gente fica pra baixo. É natural.

“Natural”, repetiu o homem automaticamente.

Como qualquer marmanjo diante de uma bela mulher que lhe apareça assim do nada, deu para imaginar coisas.

Vocês, meus amáveis cinco ou seis leitores, já imaginam quais?

Pois então…

Quis parecer simpático também.

Retribuiu o sorriso, mas não conseguiu articular sequer uma frase que lhe parecesse minimamente inteligente.

Falar que estava ali, diante daquele quiosque que vende água de coco, apenas para encontrar a turma do futebol, nem pensar.

Nunca, jamais… Seria o triste fim para a imagem de homem sensível, compenetrado e, quiçá, amoroso que a fizeram tomar a iniciativa da aproximação.

Sim, pois foi ela que se chegou.

E se chegou, bem…

Se foi ela – e foi ela – que puxou o papo é porque estava a fim de…

(…)

— Demorei? O mar está sinistro hoje…

Não houve tempo sequer para que o nosso herói terminasse de exercitar a imaginação. Percebeu apenas o vulto do surfista sarado aproximar-se da donzela, tascar-lhe um beijo e abraçados caminharem, em passos arrastado, cidade adentro.

Antes de ir e na frente do namorado-pimpão, ela fez questão de mostrar o quanto ela estava mesmo a fim de melhorar o dia daquele jovem senhor.

— Desencana, tiozão. Deixei uma água de coco paga. Vai melhorar o seu dia…

Mal sabia a moça que agora, sim, o dia havia ido para o saco.

Nem o habitual futebol com os amigos de todas as sextas o livrariam do inexplicável vazio que agora sentia…