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Ela, o mar e a brisa

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Sentou-se na areia da praia.

Ali, era o seu lugar.

Estava tão leve de espírito que sequer percebeu o gesto natural que fez. Juntou os joelhos, as coxas nuas grudaram levemente ao próprio peito e os braços completaram o ritual com doce e envolvente abraço.

Assim ficou, quase zen, quase sem nada pensar. A brisa a lhe roçar os cabelos e fazê-los dançar e os olhos firmes, distantes, no além do azul-esverdeado do mar.

Quando imaginou estar ali?

Sempre e nunca.

II.

A costa brasileira é recortada por praias paradisíacas. Outras, nem tanto. Umas lotadas de gente. Outras escondidas por trilhas e morros onde raramente o homem dá as caras por ali.

Estava em uma dessas. No sul da Bahia, entre Trancoso e Cabrália, sequer guardou o nome.

Não importa.

III.

Para ser bem sincera consigo mesmo, quinze dias atrás, quando a vida corria dentro do que se convencionou chamar normalidade, nada lhe faria supor que enfim o almejado sonho – morar num lugar distante, livre das atribulações, dos compromissos que lhe tiravam o sono e a confiança – se tornaria realidade. Num prazo tão curto de tempo.

Apertou os braços, como a confirmar que ‘aquela loucura’ de por os pés na estrada fazia todo o sentido.

IV.

Por um instante, pensou no que deixou pra trás.

Emprego seguro (seguro?), a família (“mas o que você vai fazer lá?”), os amigos ( “gente, que louquinha, você!”) e alguém que era mais do que amigo (“tem certeza que é o que você quer?”). Nada, nada de ruim lhe fizeram. A decisão era coisa dela, pessoal e intransferível.

Alguns se sentiram culpados. Outros empurraram a culpa totalmente para ela:

“Está fugindo do quê?”

V.

Sorriu, realçando a beleza natural. Do lugar e dela mesma.

Sentia-se de bem com a vida. Por conta e risco da própria vontade. Livre.

O sol na pele. A brisa. Imaginou a sensação de entrar no mar. Desenlaçou-se de si própria e, com uma leve e graciosa corrida, jogou-se na primeira onda que lhe apareceu.

Era feliz. Plenamente feliz naquele momento.

Bicho d’água. Sereia sem canto, sem calda.

– Sempre foi uma hiponga enrustida – lembrou o pai e a fala carinhosa e inconformada.

Ali mesmo decidiu: o futuro ficaria logo, ali, no futuro, como bem lhe cabe.

*(foto:l.cunha)

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