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Escova e a canção de Ottis Reeding

Como bem sabem meus cinco ou seis fiéis leitores, meu amigo Escova se arvora o direito e a função de ser o ‘ombudsman’ deste modesto Blog.

Deixa disso, uílso, já lhe disse.

Mas, ao arrepio da minha vontade, vez ou outra ele me interpela sobre as bobagens que escrevo.

Não lhe dou crédito, mas lhe devo atenção.

Afinal, Escova é velho e conhecido amigo dos tempos da redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, tempos em que ostentava, por merecimento, a alcunha mui digna de Dom Juan das Quebradas do Sacomã.

Que fase, aquela!!!

II.

Deixemos de conversinhas, como diria o Muricy (que ontem voltou a sorrir depois da goleada do São Paulo no tal do Danúbio que não é azul, mas é do Uruguai), e vamos ao que interessa.

Escova me mandou um longo email, com basicamente duas cobranças.

Vou resumi-las.

A primeira:

“Quando nos veremos de novo, para por a conversa em dia?”

Respondi de pronto:

“A princípio, sábado pela manhã, em algum boteco qualquer no Ponto Fábrica, como nos idos tempos. Mas, não garanto porque, na nossa idade, um dia se está bem; no outro, sabe lá Deus.”

Não estamos mais naquela fase…

III.

A segunda questão diz respeito aos posts que escrevi sobre minha viagem ao Caribe:

“Fiquei com a sincera impressão que o amigo se inspirou em uma antiga canção do nosso tempo, “Sitting On The Doc Of The Bay”, do saudoso Ottis Reeding, que fez um relativo sucesso em fins dos anos 60. Estou certo?”

Escova também é cultura. Foi gentil ao escrever que me “inspirei” naquela linda canção (que vou procurar no Youtube para ouvi-la). Se bem o conheço, e pelo jeitão debochado, quis dizer mesmo que o que fiz foi um plágio despudorado.

No íntimo, fiquei lisonjeado em ter propiciado ao amigo essa lembrança. A bem da verdade, minha crônica fica bem abaixo do que canta o grande e saudoso Ottis (que morreu logo em seguida em um desastre aéreo).

Os versos da canção mostram o protagonista, diante da baía de São Francisco, vendo o vaivém das ondas, esperando que o dia se acabe, com a certeza de que tudo vai permanecer como está. Nada vai mudar.

Eu gostava pra caramba da canção – e até me identificava com os versos, mas nem sequer tinha 20 anos.

Que fase aquela!!!

IV.

Lamento decepcionar ao amigo Escova.

(E isso independe das fases).

Meus alinhavos não têm nada de tão poético.

Sou apenas um homem simples do Cambuci que, quando a vida lhe propõe uma pausa, não perde a chance de se deixar levar em pensamentos e admiração diante dos sete tons de azuis do mar de San Andrés.

Se lhe lembrei o personagem da canção, talvez seja porque todo cara sonhador, com uma leve tendência à melancolia, se parece um pouco comigo.