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Escova e o amigo Ismael

Um causo para amenizar a saudade do amigo Waltão (e pra divertir um tantinho meus cinco ou seis fiéis leitores):

Naqueles áureos tempos, o Escova, solerte repórter de vasto bigode e inseparável coturno, era tido e havido entre nós, seus pares da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para rua Bom Pastor, o mais destemido dos Don Juans dos becos e quebradas do Ipiranga, Sacomã e adjacências.

Muitos o invejavam – aonde ia arranjava um enrosco amoroso. Outros, como o colunista de TV, o saudoso Ismael Fernandes, o recriminavam sem apelação.

– Onde já se viu, Escova? Você é casado, pai de família, como pode sair por aí a romancear com esta e aquela?

Escova sorria, e tentava se desculpar:

– É meu instinto de predador. Não consigo controlar. É mais forte que eu.

– Chega. Chega. Que desculpa mais esfarrapada, indignava-se nosso noveleiro mor.

(…)

Acontece que,por uma dessas coincidências da vida, tanto o Isma quanto o Escova foram convidados a participar de uma solenidade qualquer em um dos cursinhos pré-vestibular da região.

Não preciso dizer, mas digo que, no dito cujo cursinho, Escova, o bom, estava de teretetê com Adélia, a recepcionista, jovenzinha de tudo e irmã do feliz proprietário.

(…)

Quando soube que era inevitável o encontro, Escova correu ao Ismael e lhe pediu e implorou e suplicou para que ficasse na dele. Não desse bandeira, e não o entregasse para a moçoila ou para o distinto irmão, pois colocaria em risco não só o namorico clandestino do repórter, mas o bom nome do jornal em que ambos trabalhavam.

– Promete, Ismael?

(…)

O amigo prometeu – e cumpriu.

Durante todo o evento, portou-se condignamente como se nada soubesse. Fazia social na boa e, acreditem, até elogiava o amigo Escova, rapaz de fino trato e cousa e lousa e mariposa.

Tanto que à saída, diante de Adélia, do irmão, dos demais familiares, Ismael e Escova se despediram de todos como grandes amigos.

Ismael mostrou-se parceiro de fé.

– Gente, boa noite a todos. A festa foi ótima, notável. Só vou agora porque preciso dar uma carona ao Escova até a casa da sogra para buscar as lindas filhas que ele tem.

(…)

E mais não disse. Nem foi preciso.

Escova nunca mais teve notícias da Adélia.

E só voltou a falar com o Ismael três semanas depois, de tanto que o pessoal da Redação insistiu. E também porque ele (Escova) já havia se enrabichado por uma tal de Cleonice.