Voltávamos da escola por volta do meio-dia.
Almoçávamos – e depois rua.
Havia a brincadeira da temporada – a bolinha de gude, empinar pipa (que chamávamos de quadrado), carrinho de rolemã, rodar peão, colecionar carteira de cigarros, jogo de botão, entre outras.
Futebol era todo dia o dia todo.
Primeiro, na calçada. Depois no campinho da rua Piaí e, no fim da tarde, com bola de capotão, o ‘pega’ entre ruas no barrancão do Jardim da Aclimação.
Voltávamos estropiados para casa. Roupas sujas de barro, o dedão do pé em frangalhos (jogávamos descalços), fora outras escoriações.
Voltávamos rindo a debochar uns dos outros.
Tínhamos apelidos: Vaqueta, Chita, Tchinim, Paçoca, Afonseca Perna Fina e Bunda Seca, Azedo, João Bicudo, Orelhano, Pelinho, Da Bahia, Jaburu, os irmãos Bé e Bu…
Tolerávamos o quanto dava as gozações.
Vez ou outra saía briga.
Esmurrávamo-nos a valer. Até que alguém separasse os valentões.
Meia hora depois estava tudo resolvido.
Os litigantes poderiam até jogar no mesmo time e comemorar o gol da equipe.
Os pais sabiam por alto das nossas estripulias.
Quando aprontávamos e eles sabiam, o couro comia. Sem dó, nem perdão.
Não havia comissão para dizer o que os nossos velhos precisavam ou não fazer.
(Aliás, bastava um olhar e todos entendíamos que era hora de baixar o facho, sossegar.)
Ninguém tinha TV em casa.
Não havia o politicamente correto.
Nunca ouvimos falar de bullyng.
*** Ah! em algum momento fazíamos os deveres de casa, mas não lembro quais.