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Fernando Faro

Cumpro hoje a promessa que ontem lhes fiz.

Reverencio hoje a memória de Fernando Faro, um dos mais respeitados nomes da produção musical brasileiras nas últimas seis décadas.

Faro morreu ontem em São Paulo, aos 88 anos.

II.

Como era homem de ficar atrás das câmeras, o nome de Faro tornou-se conhecido do grande público como criador do programa “Ensaio”, de ampla carreira na TV brasileira. Tem mais de 700 edições e ainda hoje é levado ao ar pela TV Cultura.

A atuação de Faro, porém, é extraordinariamente mais ampla. Remonta ao início dos anos 60 e vem até os nossos dias. Trabalhou nos bastidores do TV de Vanguarda. Foi responsável pelos festivais universitários da extinta TV Tupi, produziu o tropicalista “Divino Maravilhoso” (tirado do ar pela ditadura militar após quatro apresentações) e outras tantas e tamanhas realizações dentro ou fora dos estúdios televisivos.

Não é exagero dizer que a MPB não seria a mesma sem o alinhavo criativo e a assinatura de Fernando Faro.

Sem exceção, de Elis a Chico Buarque, do saudoso sambista Roberto Ribeiro ao experimentalista Walter Franco, todos os grandes nomes da nossa música foram dirigidos, em algum momento, em algum espetáculo, pelo talentoso “Baixo”.

III.

Aliás, a história do apelido Faro virou sua marca pessoal. Quando muito, ele devia ter algo em torno de 1,60 de altura. Por isso, quase sempre o chamavam de “Baixo”.

Num gesto afetuoso e quase numa autodefesa, Faro passou a chamar a todos os amigos, em retribuição, com o mesmo codinome.

Todos eram “Baixo” para ele.

E melhor: todos queriam ter a distinção de serem assim chamados para fazer parte do seu ilustre rol de amigos.

IV.

Eu o conheci em meados dos anos 70 quando trabalhava, como repórter, na cobertura dos eventos musicais em São Paulo. Participava de quase todas as entrevistas coletivas, cobria shows, lançamentos de discos e procurava estar presente onde houvesse informação sobre o tema.

Vez ou outra, nessas ocasiões, eu o encontrava – e, sempre que me era possível, tentava um depoimento seu sobre a temática do dia. Era um especialista em MPB, sabia o caminho das pedras, minha modesta reportagem só se enriqueceria com a sua opinião.

Ele sempre foi acessível, mas monossilábico nas respostas. Só se animava em falar um tantinho mais quando podia encaixar uma historieta que vivera ao lado de Chico Buarque e Toquinho, por exemplo.

“Os rapazes eram do barulho – e eu também” – lembro tê-lo ouvido dizer, certa feita, sobre uma bebedeira que os três tomaram em um dos botecos nas imediações da rua Maria Antônia.

“O Chico cismou de deitar no meio da rua – e ninguém conseguia demovê-lo da ideia de ficar ali.”

V.

Não lembro como a história terminou.

Mas, dá para dizer, que os três saíram ilesos dessa e de outras trapalhadas. Para o bem da nossa mais autêntica música popular.

Enfim…

Lembro que nesse dia nos despedimos com um aperto de mão. E, por alguns instantes, imaginei que seria contemplado com um: “Até breve, Baixo”.

Mas, não tive essa honra.

Ficamos apenas no aperto de mão.

Desconfio mesmo que não merecia…