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FHC em baixa e o senador reluta

01. O ministro do Planejamento, o senador José Serra, relutou o quanto pôde para aceitar a candidatura à Prefeitura de São Paulo. Serra tem demonstrado nas últimas participações eleitorais um esmerado feeling para vitórias. Por isso, não é demais supor que logo pressentiu as dificuldades que enfrentaria, diante de um eleitorado insatisfeito, como representante oficial do partido governista. Ao que consta, até o momento, os sensores do tucano Serra estavam cobertos de razão. Depois de mais de um mês de campanha, a candidatura do PSDB em São Paulo não decolou. Pesquisa Ibope/O Estado, divulgada na terça-feira, mostra Serra em quarto lugar, com apenas 14 por cento das intenções de votos. A candidata do PT, Luiza Erundina, manteve-se em primeiro (27 por cento). Pitta, o candidato do prefeito Maluf, surpreendeu ficando em segundo (19 por cento) e o evangélico Francisco Rossi está em terceiro, com 18 por cento.

02. São Paulo, como bem definiu o deputado e jornalista João Mellão Netto, no histórico artigo que escreveu semana passada em Gazeta do Ipiranga, tem um dos eleitorados mais instáveis e caprichosos que se conhece. No entanto, não há como negar, é exigente e implacável em suas escolhas. É notório o distanciamento que existe entre o discurso, sempre polido e objetivo, do presidente Fernando Henrique Cardoso e falta de praticidade de suas ações. É visível também o desalento dos eleitores de FHC — e São Paulo foi a mola mestra de sua incontestável vitória em 94 — com as expectativas que se criou em relação ao muito que o então idealizador do Plano Real poderia fazer por nós — e o nada que vem fazendo nesses 19 meses de mandato.

03. Estabeleceu-se o controle da inflação. Ótimo, parabéns, nota 10 neste quesito. No entanto, a que custo social tal proeza se consignou. Desemprego monstro, recordes sobre recordes de falências e concordatas, estreitamento do crédito e do consumo, estagnação das reformas constitucionais (tidas e havidas como fundamentais para construção de um novo País), abandono de setores essenciais como agricultura e construção civil, a eterna crise no setor-médico hospitalar. Isso tudo e a miséria a campear solta tanto nas metrópoles (o contingente de mendigos aumenta a cada dia) como no campo (vide o movimento dos sem–terras que organiza–se por todo o Brasil). Não há dúvida que se esperava muito mais do presidente e sua equipe, considerada do mais alto nível cultural.

04. De outro modo, na área política propriamente dita, o Governo vem se mostrando hesitante, sem o pulso firme necessário para impor sua vontade junto aos próprios aliados. Vira-e-mexe, lá estão eles a reivindicar privilégios em troca do voto coeso da bancada governista. Foi vergonhoso, ainda na semana passada, ver os deputados, convocados para as sessões extraordinárias, manifestarem-se favoráveis à viagem para Atlanta, com tudo pago, lógico. Disseram que em nada atrapalharia as votações no Congresso, pois voltariam a tempo de dar seus pareceres.

05. Por outro lado, quando os governistas se unem revelam uma absurda distancia da vontade popular. É o caso da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira que, a bem da verdade, ninguém em sã consciência quer. Mas, que a Câmara acabou de aprovar em segundo turno nesta quarta. E que agora só depende do projeto-de-lei. É mais uma demonstração do quanto andam inconciliáveis as razões do Governo e as necessidades reais da Nação que ainda sonha por se fazer respeitar.

06. Como reverter esse quadro, eis a questão para a candidatura Serra não afundar com os índices de insatisfação popular de FHC, a cada dia mais baixos.