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Fim de caso

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Nunca soube me dizer exatamente como aconteceu.

Mas, não hoje, naquele dia…

Foi há tantos…

Naquele dia,  teve um pressentimento de que algo desandara entre ele e a moça. Por isso, estavam os dois ali, naquele momento, num ponto perdido do Litoral, a olharem, calados, o mar sem fim diante de ambos.

Quis lhe dizer para não ir, não era bem assim, eles se amavam, não era hora de adeus, tudo se arrajnaria, calma, calma, era uma questão de tempo…

Essas coisas que se diz quando nada mais adianta dizer.

Eu lhe perguntei como chegaram a este ponto.

Embatucou um olhar nostálgico, como se visse um filme, e desandou o enredo todo.

Gosto dessas histórias. Sou um bom ouvinte.

Deixei que falasse…

(…)

Acordaram naquele sábado, com a naturalidade de que nada estava acontecendo. Como um casal normal, tomaram o café da manhã na padaria próxima ao apartamento onde ela morava, com uma amiga.

Só o silêncio entre eles denunciava que as coisas não andavam bem. Os olhares, também. Não se encontraram, cúmplices, um instante que fosse.

Para ele, vivido de outros lances e alcances, não foi difícil intuir que o cristal se trincara. Não sabia se nos anseios dela. Ou se no jeito egoísta que ele, reconhecia agora, sempre tivera de enxergar a vida e, dentro da vida, os amores. E, dentro dos amores, as mulheres, os amores propriamente dito e a vida.

(…)

Hoje, tantos anos depois, tem séria dúvidas se era assim que pensava naquele preciso instante.

Certeza, certeza,  tinha apenas a de que não queria perdê-la.

Não, naquele momento.

Só lembra que, de repente, ouviu a proposta que ela lhe fez:

– Vamos ver o mar, vamos?

Pego de surpresa, e certo de que algo não ia bem, tentou ganhar tempo antes de dizer que sim. Com aquela dona, ele iria para a Conchinchina, o Cazaquistão, para a Lua, para Marte…

Mesmo assim, esgrimiu a dúvida:

– O mar? Hoje? Como assim?

(…)

Ela sorriu. Sabia que ele sempre lhe fazia às vontades, que viveram um conto de fadas, uma linda história, mas era hora de fechar o ciclo – e queria que fosse algo bonito, poético. Inesquecível.

– A gente pega o carro e vai. Faz um bate-e-volta. Anda pela praia, vê o mar… Você prometeu, lembra?

Lembrar, lembrar, não lembrava. Mas, não era impossível. Provável mesmo. Falava demais, prometia tudo, o céu, a lua, as estrelas…

Prometia, e logo esquecia.

(…)

Saíram dali, pegaram a estrada – e, hora e meia depois, foram serpenteando a avenida que margeia a praia até surgir um morrão à frente. Ela lhe chamou a atenção para uma ruazinha à direita que subia e deveria levar aonde queriam.

– Vai por ali, ó…

Manobrou para atendê-la.

Dito e feito. Logo chegaram a um mirante, oportunamente, ali improvisado por alguma alma boa e sensível, santa protetora dos casais apaixonados.

(…)

Desceram do carro, sentiram o vento bater no rosto. De mãos dadas, sem dizer palavra, caminharam para ver o mar.

Ficaram assim.

O céu nublado, sem sol, a linha do horizonte a limitar sonhos e ilusões e o mar…

O mar sem fim diante de ambos.

Foto: arquivo pessoal

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