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Histórias do País da Esperança

"Se vos considerais sábio, suportai os insensatos alegremente" (Corintios 11,19)

Vamos dar uma espiadinha nos fatos da semana no País da Esperança e do Big Brother 3:

01. O pacato cidadão procurou o distrito policial do bairro, Vila Matilde, para fazer uma queixa. Nada de muito grave. Uma dessas bobagens do cotidiano que, às vezes, nos levam até o balcão de uma delegacia: um celular roubado, documentos perdidos, discussão com vizinho, coisa do tipo. Quando deu seu nome ao atendente, estranhou a expressão do funcionário. Minutos depois, o investigador lhe deu voz de prisão — e o encarcerou sem mais aquela. A família nada entendeu. Procurou um advogado que fez diversas tentativas de libertá-lo. Mas, sempre ouvia a mesma ladainha. Era a ingenuidade ou muita cara-de-pau, um perigoso bandido apresentar-se num DP para uma denúncia tão banal. Dezoito dias depois, repartindo uma minúscula cela com doze marginais de alta periculosidade, a constatação óbvia: o trabalhador foi preso por engano. É homônimo de um traficante. Bastaria a comparação de suas impressões digitais para que fosse desfeito o engano naquele mesmo dia da prisão. Mãos para trás, cabeça baixa, o fio de voz e a expressão sem vida do olhar o trabalhador era o retrato da humilhação ao contar ao repórter da TV o drama a que foi exposto pela inépcia de quem deveria protegê-lo. O filho não se contém, interrompe a entrevista e, em voz altiva, pede ao pai que relaxe e entenda: o pior já passou, diz. Agora é voltar a viver. O homem faz do silêncio a resposta, mas está convicto que, para o rosto da vida, não esquecerá a injustiça que sofreu…

02. Seis rebeliões em pouco mais de uma semana. Cenas de violência que chocam o mundo, mas que nos acostumamos a ver. Menores com o rosto coberto por trapos, de estilete, pedaços de paus e pedras nas mãos. Eles destróem tudo o que vêem pela frente. Põem fogo nos colchões, destelham o pavilhão, fazem reféns. Reclamam de tudo e de todos. Querem isso e aquilo. Só param quando a tropa de choque invade e a tragédia com todos seus contornos de carnificina se toma iminente, o governador vai aos microfones. Não só ele, o secretário de Segurança, o da Educação, o policial, o monitor, a mãe do menor… Todos falam, mas ninguém acredita que a Febem é solução para alguma coisa. A instituição faliu em seus propósitos de recuperar o jovem para a sociedade. Pior: não há nada de novo — e verdadeiramente efetivo — sob o sol…

03. O novo Governo fala em reforma da Previdência como o primeiro passo para aprumar as contas do País. A reforma é anunciada desde o primeiro ano do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Sempre foi postergada, pois invade e conflita interesses de diversos segmentos sociais. FHC e sua trupe preferiram priorizar a reforma constitucional que permitiu a reeleição presidencial. Cumpriu-se os oito anos de mandato tucano — e tudo permaneceu na mesma. A reforma sempre defendida por todos era adiada por isso e aquilo e sabe-se lá o que mais. Eis que agora a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma o assunto como pedra de toque das mudanças anunciadas. Um primeiro quesito propõe a discussão que parece infinda; equiparar a aposentadoria dos funcionários públicos com a dos trabalhadores da iniciativa privada. Um passo básico, elementar para o equilíbrio das finanças da instituição. Foi como mexer em vespeiro. Dizem que o presidente Lula teria garantido aos militares que lhes seria preservada a aposentadoria especial. Logo em seguida, veio a declaração de um supremo magistrado com a argumentação que os juizes também têm direito adquirido. E a enxurrada de reclamações parece não parar aí. Resumo da ópera: a exceção vira regra. E tudo continua como está. O Brasil permanece sendo um País de cidadãos de duas categorias…

04. O deputado renuncia ao mandato para fugir da cassação por falta de decoro parlamentar. Ele é acusado de "trabalhar" para facilitar a venda de hábeas corpus para perigosos traficantes. Tudo provado e comprovado, com fitas e documentação que o denunciam. Com a renúncia, arquivou-se o processo de cassação que tramitava no Conselho de Ética da Câmara Federal. O ardil, na verdade, pretende trazê-lo de volta ao Congresso em fevereiro quando assumem os deputados eleitos em outubro de 2002. Lamentavelmente, esse filme já vimos… E não é difícil que volte ao cartaz…

05. O governador manda rever as tarifas dos cartórios que super valorizaram seus serviços. O governador reconheceu que o Estado tinha parcela de culpa. A prefeita manda rever a tabela do IPTU. A opinião pública chiou e a própria prefeita achou mais conveniente fazer ajustes nos carnês. Pior que os vereadores haviam aprovado o projeto do Executivo sem qualquer reparo… Mas, a passagem do Metrô sobe neste domingo. Vai a 1,90 real…

06. Morre o jogador que preferiu não vestir a camisa da seleção brasileira na Copa de 1968 porque jogava na Itália. Ele declinou da convocação da então CBD por achar injusto que um atleta que jogava no exterior ocupasse o lugar de um ponta que vivia e jogava no Brasil. Seu nome: Júlio Botelho, que atuou pelo Juventus, Portuguesa, Fiorentina e Palmeiras nos anos 50 e 60. Seu exemplo: o senso de justiça e caráter, ingredientes fundamentais para a construção do tão anunciado novo Brasil.