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Imprensa de bairro como opção profissional

*Publicado no livro Os Jornais de Bairro na Cidade de São Paulo, editado pela Secretaria Municipal de Cultura.

Março de 1974. Lá estava eu na sala de redação de Gazeta do Ipiranga para tentar o sonhado emprego de jornalista, depois de investidas desanimadoras em redações dos grandes jornais que me convenceram que o jeito era procurar um caminho alternativo.

Hoje, estou preste a completar onze anos de jornalismo em imprensa comunitária, durante os quais aprendi significativas lições. A primeira e mais gratificante: poder participar de todas as etapas de confecção de um jornal. A segunda e mais sofrida: por melhor que seja, qualquer projeto editorial torna-se um empreendimento inviável sem uma sólida retaguarda administrativa e publicitária.

Em 1977, eu e dois amigos, também jornalistas, criamos o Jornal da Mooca, com requintes inovadores para os padrões vigentes que, acreditávamos, seriam suficientes para assegurar vida eterna ao nosso combativo tablóide, de bem cuidadas 12 páginas.

Sob nossa responsabilidade, o Jornal da Mooca viveu, a duras penas, pouco mais de um ano e meio. Enquanto o projeto editorial concentrava a atenção dos três “quixotes” – longas discussões de pautas, inesquecíveis matérias especiais, irreverências gráficas etc – a resposta publicitária nem sempre equivalia aos gastos da Oficina.

Assim, a cada nova edição o sonho se transformava num incômodo pesadelo.

De volta a Gazeta do Ipiranga, como redator-chefe e, posteriormente, editor e diretor-responsável, fomos gradativamente abrindo as páginas do jornal para o registro da abertura democrática até a mobilização nacional pelas diretas-já, quando o jornal se fez presente desde a primeira hora.

Hoje estou certo de que se pode fazer o melhor jornalismo tanto na Grande Imprensa como em qualquer dos respeitáveis jornais de bairro que existem em São Paulo. Os valores morais, éticos e mesmo profissionais se equivalem para todos os jornalistas.

E, à medida que os jornais de diários e os noticiosos de rádio e TV tornam-se cada vez mais abrangentes, abre-se um espaço sensivelmente maior para a imprensa setorial, que trabalha a realidade imediata do leitor que assim a vê transformada em notícia.

De resto, há nos brasileiros hoje um amplo desejo de organização e participação, sementes de fraternidade, de vida comunitária que os jornais de bairro, sem dúvida, ajudaram a cultivar.

Como alguém ensinou,

“Para ser universal, basta falar da sua aldeia”.