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José de Sá

– Je ne sais pas.

Não sei por que cargas d’água respondi em francês a pergunta que o prof. Gino me fez , na aula do pós, sobre o trecho de um livro que sequer eu havia lido. Talvez fosse resquício dos meus tempos de colégio marista, onde o idioma do Santo Marcelino Champagnat, fundador da congregação, era obrigatório em todo o ginásio. Talvez fosse apenas um gracejo para as colegas de classe. Talvez fosse bobeira minha mesmo.

Sei que ao final da aula, o José de Sá, que assistia àquele conteúdo para cumprir os requisitos do doutorado, me procurou para papearmos em francês.

Conhecia o Sá apenas dos corredores da Universidade. Dávamos aula no curso de Jornalismo, mas ele lá nos seu canto e eu no meu – éramos novos no pedaço, e ainda tateávamos o ambiente acadêmico.

Vou lhes dizer que foi um perereco fazê-lo entender que eu não falava nada de nada de francês ou de qualquer outro idioma que não fosse o nosso aguerrido português.

Tive que dizer isso justo para o Sá, poliglota e um jovem doutorando, de terno e gravata (trabalhava no Ministério Público) e todo cerimonioso no trato com as pessoas.

Ele riu da minha bravata.

A partir daquele dia nos tornamos amigos. Chegamos até a dividir alguns conteúdos em dupla no curso de Jornalismo. Era bem divertido ver a perplexidade dos jovens alunos diante da postura sóbria e professoral do Sá em contraste com a minha despachada performance em sala de aula.

Lá se vão quase 20 anos.

(…)

Soube ontem no fim da tarde que o amigo José de Sá nos deixou…

Ao longo dos últimos anos, ele vinha enfrentando problemas de saúde e, desde o segundo semestre do ano passado, estava afastado da Universidade.

Deveria voltar neste início de semestre. Mas, à última hora, soubemos que ele havia prorrogado sua licença. Os planos, no entanto, era de voltar assim que se restabelecesse plenamente.

Não deu.

(…)

É triste, muito triste, escrever sobre um companheiro que se vai…

É quando o buraco negro do efêmero se manifesta em sua plenitude.

Palavras não preenchem esse doloroso vazio.

Um naco de nós também desaparece – ou se transforma em saudade e silêncio.

Pois é, amigo Sá, je ne sais pas.

Nada sei.

Apenas que a vida é assim e, tristemente, assim é que é…

(Meus sentimentos à família!)