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Judith e Ronnie Von (2)

VI.

Percebo a decepção no semblante de Judith.

Além de eu não ter entrevistado o cantor pessoalmente em minhas andanças (portanto, não tenho lá essa experiência toda que dizem no meio musical), ainda me ponho a historiar os anos 60 sem dar a Ronnie Von o devido valor.

Por isso, creio, ela me interrompe decidida:

– O programa dele era uma alternativa ao de Roberto. O Ronnie era lindo, letrado, cantava Beatles em inglês. Era uma nova forma de falar com os jovens. Uma ameaça ao reinado de Roberto, Erasmo e Cia.

Entendo “O Pequeno Mundo de Ronnie Von” como um subproduto da Jovem Guarda, sem ter a relevância dos musicais que a Record produzia naqueles anos dourados da MPB: O Fino da Bossa, Bossaudade, Esta Noite Se Improvisa, Show em Symonal, os Festivais, Show do Dia 7 e o próprio Jovem Guarda.

VII.

Não digo isso a ela. Mas, lembro que esse papo de competição, é verdade, corria solto à época, alimentado pelas revistas que cuidavam de noticiar o mundo artístico. Pensei que houvesse ficado no passado.

Havia, sim, certa rivalidade entre eles dentro de um contexto maior: o grande caldeirão de intrigas e vaidades que eram os bastidores da TV Record, dona do maior cast de artistas da época – todos os grandes nomes da música popular pertenciam à emissora da família Machado de Carvalho.

Estamos falando dos efervescentes anos 60, lembrem-se. Absurdamente imprevisíveis e mágicos no âmbito artístico e cultural.

VIII.

Não consigo resistir a tentação de contar para Judith e para vocês o nome de quem verdadeiramente fez tremer a fortaleza de sucesso do Rei.

Não foi Ronnie, nem nenhum dos contratados da Record.

Foi um cantor capixaba (como Roberto), de voz anasalada (como Roberto), de cabelo frisado na testa (como Roberto) que apareceu por uma pequena gravadora (Caravelle), com um compacto simples composto pelas músicas “Última Canção” e “Benzinho”.

Foi um estrondoso sucesso.

Logo veio o elepê do cantor (intitulado de ‘Paulo Sérgio’) igualmente bem-sucedido. Em poucas semanas, vendeu mais de 300 mil cópias, um espanto para a época.

IX.

Os fãs de Roberto ficaram indignados, com as notícias de que Paulo Sérgio liderava todas as paradas de sucesso. E logo seria mais famoso que o Rei.

“Ele não passa de um imitador”, diziam.

Roberto e seu staff compraram a briga.

Anteciparam o lançamento de uma das canções do álbum daquele ano – “Eu Te Amo, Te amo, Te amo”, que passou a liderar a lista dos compactos mais vendidos. E, pouco antes de dezembro daquele ano (1968), chegou às lojas o novo elepê de Roberto Carlos, com o sugestivo título de “O Inimitável”.

Judiht sorri, decepcionada. Não era a história que gostaria de ouvir.

Enfim…