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Meus comunas favoritos

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“De que lado você está? ”

Era voz debochada do Marcão a provocar o radical Zé Jofre numa discussão sobre os caminhos da Revolução Russa naqueles 60 anos de existência.

Deixa eu situar vocês nos fatos.

Estamos na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, em meados dos anos 70. Marcão e Zé Jofre são amigos de longuíssima data; ambos remanescentes do Partidão (Partido Comunista Brasileiro).

Lá se conheceram e enveredaram para a militância no jornalismo (enquanto puderam) e na política partidária (enquanto deixaram). Zé Jofre chegou a ser preso no dia “em que a Polícia de Getúlio empastelou” um dos tantos jornais em que trabalharam, quase todos ligados ao Partidão. O Marcão (nas bocas e becos, conhecido também como Tonico Marques) só não foi em cana porque, como dizia o Zé Jofre, “ninguém o dedurou”.

(…)

Eram parceiros de copo e de vida.

Mas, tinham lá suas diferenças. Muitas. Mas, conviviam bem.

No entanto, adoravam polemizar sobre o tema, especialmente quando percebiam os olhos arregalados dos jovens repórteres (entre os quais, me incluo).

Penso hoje que tinham gosto pelo bate-boca que, aos nossos olhos, se assemelhava a uma densa e viva aula de História.

O santista Marcão fazia o gênero moderado.

– Vamos fazer a mudança pelo voto.

O cearense Zé Jofre, gráfico de origem, era pau puro.

– Se não houver revolução não tem mudança.

E arrematava:

– Patrão bom nasce morto.

(…)

Numa dessas discussões, um de nós (juro que não fui eu, mas não lembro quem foi) tentou dar um pitaco que conciliasse as teses defendidas por um e pelo outro.

– Afinal, vocês querem um Brasil mais justo e solidário, não é isso?

Ninguém chamou o abelhudo para o debate – e, como prova da sua inadequação ao tema, ouviu o seguinte questionamento:

– Você já leu o livro do John Reed?

– Quem?

– Tá vendo, Marques, o burguesinho alienado quer falar do que não sabe?

(…)

Zé Jofre se referia ao livro “Dez Dias Que Abalaram o Mundo”, que é um clássico do Jornalismo como obra que abre os ciclos das chamadas Grandes Reportagens e documenta os dias que precederam a Revolução Bolchevique de 1917, que hoje completa 100 anos.

O jornalista americano acompanhou ao vivo os acontecimentos e as manifestações de rua em Petrogrado (hoje São Petersburgo). Além do que, teve o privilégio de entrevistar os líderes Lênin e Trotski.

Não sei se o bocudo foi se informar sobre a obra.

Mas, eu – que odiava ser chamado de ‘burguesinho alienado’ – corri para biblioteca para me pôr minimamente a par das discussões dos venerandos jornalistas.

(…)

Tantos anos depois, aproveito a data para reverenciar os inesquecíveis e saudosos jornalistas.

Lembro que já escrevi sobre eles na crônica “Marcão e Zé Jofre.

Também recomendo a leitura do clássico do Jornalismo e, de quebra, a reportagem multimídia do Uol – “Comunistas no Poder” – assinada pela repórter Talita Marchao.

(…)

Conhecer a história é entender o presente e iluminar o futuro.

Todos precisamos entender, com precisão, de que lado estamos…

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