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Mudando de casaca

Era normal que todo o candidato – fosse qual fosse o cargo eletivo que concorresse – começasse sua visita eleitoral ao bairro do Ipiranga pela Redação do jornal Gazeta do Ipiranga, onde trabalhávamos.

Havia também os que preferiam terminar ali, no velho casarão assobradado da rua Bom Pastor, o périplo pelas entidades da região.

Em qualquer um dos casos, porém, os pimpões se faziam acompanhar por turbas de cabos eleitorais, correligionários e que tais.

Corria o solto o outono eleitoral do ano de 1992 e os bochichos no bairro eram grandes sobre as divergências entre as principais candidaturas, a do então vice-governador Aloysio Nunes Ferreira Filho (PMDB), senador Eduardo Suplicy (PT) e o empresário Paulo Maluf (PDS, ou seria PPB?).

A assessoria de Aloysio agendou a visita à redação numa tarde de setembro.

Demos o ok! – e cuidamos de marcar outras datas para que ocorresse o encontro com os outros candidatos.

Evitar acidentes – diziam as antigas placas rodoviárias – é dever de todos.

Nossa intenção era evitar qualquer tipo de confusão.

Não seria de bom tom para o jornal, para os candidatos, para ninguém.

No dia e horas aprazados para a visita, e para nossa surpresa, eis que vimos se formar, à frente do prédio de GI, um ajuntamento de conhecidos malufistas.

— Aí, meu Deus, vem confusão pela frente!, avisou-nos o Seo Elizeu, motorista da viatura da reportagem.

Ficamos rendidos!

Será que não havíamos ‘batido’ as agendas dos candidatos?

— Tarde demais, disse o amigo DeVito, espécie de contínuo da Redação. – A comitiva do Aloysio está chegando.

Deu para ouvir o espocar dos rojões, anunciando que o candidato estava próximo. Para nosso desespero, muito próximo.

Logo a multidão cercou o comboio de automóveis que chegava ao estacionamento do jornal.

Todos se preparam para o pior.

Inclusive porque um dos principais líderes do malufismo gritava palavras de ordem, inteligíveis à distância; mas que empolgavam a massa.

Já era possível ver a silhueta de Aloysio a descer do carro quando, meio que no susto, sem pensar disparei em direção ao homem – e perguntei:

— O que você está fazendo? Seu candidato, o Maluf, só vem aqui na próxima semana. Por favor…

Ele sequer me deixou terminar a frase:

— Nada disso, seu jornalista. Mudamos de casaca, trocamos de partido. Nosso candidato agora é o Doutor Aloysio…

Confesso que senti um baita alívio, mas fiquei super sem graça. Mas, ele, meus caros, ficou mais ainda.

Aloysio, é certo, ouviu todo o nosso diálogo. Seguiu em frente sem dar uma palavra, como se nada houvesse acontecido.

Em tempo de eleições, todo o apoiamento é sempre bem-vindo. Venha de onde vier…

** FOTO NO BLOG: Jô Rabelo