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Não pegou bem

Juro que preferiria não meter minha humilde colher de pau nesse mal temperado angu.

Mas, é inevitável escrever algo sobre o seminário de palestras sobre os desafios do jornalismo que a Folha de S.Paulo realizou, na quinta e na sexta, com renomados jornalistas e afins em diversos painéis de discussão.

O assunto foi tema de todas as rodas aqui, no curso de Jornalismo, e o motivo foi o patrocínio que a Odebrecht, uma das empresas envolvidas no escândalo da Operação Lava Jato, deu ao evento que reverenciou os 95 anos de existência do jornal.

A polêmica começou antes mesmo dos debates. Alguns jornalistas, convidados para o encontro, declinaram do convite em função da parceria. São eles: Eurípedes Alcântara (Veja), Fausto Macedo (O Estado de S.Paulo), William Waak e Renata Lou Prete (ambos da Rede Globo).

O editor da Folha de S. Paulo, o jornalista Sérgio D’Ávila, citou a emblemática divisão entre Igreja e Estado, imagem mais do que manjada nas lides jornalísticas para equacionar as questões comerciais da empresa e as obrigações jornalísticas de isenção de qualquer outro interesse senão o de preservar o bem-comum.

Na edição de ontem do jornal, a ombudsman Vera Guimarães Martins discorreu, com propriedade, sobre o tema. Propôs que esse impasse (o financiamento do jornalismo) seja uma questão a ser discutida “aberta e honestamente”.

Nas entrelinhas, no entanto – e se bem entendi – ponderou que tal associação não foi das mais oportunas. “Além do mais, é difícil crer que um jornal como a Folha não pudesse bancar um evento em que nenhum dos palestrantes foi remunerado” – citou em trecho da coluna que mantém aos domingos, na página A6.

A Folha é um jornal que se arvora defensor do pluralismo, aberto aos mais diversos colaboradores. Tem mais de 120 colunistas, dos mais distintos matizes políticos e ideológicos.

Tenho lá minhas dúvidas quanto a essa pluralidade toda. Aliás, ainda na semana passada, o filósofo Renato Janine Ribeiro questionou a equanimidade desse conceito em artigo publicado no próprio jornal, na seção Tendências e Debates (“A Folha É Pluralista o Suficiente?” – pág. A3).

Concordo com a ombudsman e com o filósofo, modestamente.

A discussão é mais do que necessária. O jornalismo vive um momento de transição que merece atenção e cuidado. O debate e a transparência devem nortear os novos caminhos.

No caso específico do apoio ao debate da Folha, fiquei com a sensação que os organizadores não leem o que escrevem comumente os colaboradores do jornal. Não é raro, eu os vejo aplicar a máxima da mulher de César para esta ou aquela pendenga política e/ou econômica:

“À mulher de César não basta ser honesta, é preciso mostrar que é honesta.”

Estranho como tal referência escapou aos próceres do seminário. Não pegou nada bem…