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Nestor e a crise na Europa

Às vésperas do plebiscito que decidirá os rumos econômicos (e políticos e sociais) da Grécia, lembro o encontro que tive, em abril deste ano, com o amigo Nestor em uma cafeteria à beira do rio Tejo, em Lisboa.

Já, já explico o porquê da lembrança. Antes, porém – e brevemente –, lhes apresento, caríssimos e raros leitores, o Nestor.

Se puxarem pela memória, recordarão que já o conhecem. Ele foi assunto da crônica “O amigo de infância”, postada em 19 de abril. Mas, permitam-me recuperar um tantinho da sua história.

II.

Eu o perdi de vista ainda na década de 60 quando ainda éramos garotos. O Nestor e a família, sem aviso prévio, se mudaram do velho Cambuça e não deram mais sinal de vida. O Sr. Nestor-pai havia se enroscado na luta contra os desmandos da ditadura da vez, fora preso e, quando solto, se mandou do país, junto com os familiares.

Só soube agora, nesse encontro, das andanças do amigo, desde então, mundo afora.

Ele atualmente mora na Bélgica, nunca mais deu as caras por aqui. Nem pretende. Disse que não tem saudade alguma. Mesmo assim se pôs a investigar, via redes sociais, por onde andava a turma da Maloca como éramos conhecidos à época; nós, os moleques da rua Muniz de Souza.

Nessa caça webiana, o Nestor me encontrou e, como eu tinha uma viagem previamente marcada à Europa, fechamos de nos encontrar em Lisboa.

III.

Isto posto, guardem essa apresentação, é bem provável que, em crônicas futuras, o Nestor a reapareça. Até porque aquela foi uma tarde inesquecível, entre cafés, água com gás (da marca Salgada) e pastéis de nata, sem falar das recordações e constatações.

Uma dessas constatações é a que motivou o post de hoje – e, óbvio, tem a ver com a turbulência que o Velho Continente enfrenta nos últimos meses (para não falar anos). Os acontecimentos da Grécia são a ponta do iceberg. Segundo o amigo Nestor, a Europa e o mundo, consequentemente – vivem uma encruzilhada, sem ter clareza de qual caminho devem seguir.

Não cabe mais qualquer solução isolada. Não há como retroceder no tempo e viver como se vivia em idos tempos.

– Se continuar essa retórica de eu mando e você, o pobrezinho, obedece. Todos afundam.

IV.

O Nestor explica que fenômenos como a globalização desenfreada, as ondas de imigração, as diferenças econômicas e sociais entre os países, a ascensão da Rússia, o radicalismo pseudamente religioso, a intolerância de grupos ultra conservadores, entre outros tantos problemas, precisam ser equacionados conjuntamente, buscando uma plataforma comum de soluções que há todos beneficie e/ou penalize igualmente.

Ainda no entender do amigo (que mora em Bruges há sei lá quantos anos), há uma clara hegemonia na União Europeia dos interesses dos países economicamente mais assentados. As decisões parecem servir ao equilíbrio social de Alemanha, Inglaterra e França em detrimento de países como Grécia, Portugal, Espanha e por aí vai…

V.

O Nestor me contou que a autonomia desses últimos, “como nação soberana”, é constantemente menosprezada nas decisões da cúpula da União Europeia e do FMI. Tanto que se fala abertamente, e em tom de deboche, nesses países que, ao invés de se eleger um presidente e/ou um parlamento, melhor seria votar logo no todo-poderoso presidente da Europa, pois em última análise “é assim que as coisas funcionam na hora do vamos ver”.

VI.

Naquela noite mesmo, no hotel diante da TV, acompanhei um debate de alguns ilustres sobre o alarmante índice de desemprego em Portugal. Um dos jovens debatedores repetiu a insatisfação com os governantes locais e sua subserviência aos ditames da UE.

– Se é para que assim seja, o mais razoável seria votar na senhora Ângela Merkel não apenas para chanceler da Alemanha, mas de toda a Europa. Faz mais sentido, ora pois…

Ora pois, digo eu. O Nestor sabe das coisas.

Conclusão:

Tanto lá como cá, todos precisam perder um bocadinho para que todos possam ganhar em equilíbrio e qualidade de vida; não apenas os mais necessitados, os que sempre pagaram a conta.

VII.

Sabem aquela brincadeira com o jogo de dominó quando se põe uma pedra atrás da outra e da outra e da outra… Pois então, se a Grécia cair amanhã, outras tantas economias virão na sequência, inclusive as grandonas.

Não se vive feliz, isolado, em meio a tanta gente infeliz.

É da vida, dos amores – e das economias globalizadas.

** escrevi demais, volto segunda.