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O jornal

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Já lhes disse aqui – e hoje repito. Uma de minhas suspeitas para a tal vocação de jornalista que se abateu sobre mim começou cedo e involuntariamente.

O pai chegava todos os dias para almoçar em casa com o Diário da Noite dobrado em quatro em baixo do braço. Assim que ele largava o dito-cujo em cima da mesinha da sala, eu ia direto pegá-lo e buscava, na página de esportes, a coluna “20 Notícias”, assinada por Antônio Guzman.

Queria saber as últimas sobre o meu Palmeiras. Quem joga, quem não joga, como foi o treino, essas bobagens que enchem de sonhos a cabeça do garoto apaixonado que sempre fui por futebol.

(…)

Meu filho chegou em casa ontem à noite, abriu a mochila e tirou de dentro dela um… exemplar de jornal, dobrado em quatro. Largou em cima da bancada do escritório.

Foi um impacto assim que vi o ‘bichão’ ali em folhas e tintas.

Há quanto tempo eu não via assim de pertinho uma edição de jornal impresso?

Ué, ainda existem e resistem?

Circulam ainda todos os dias?

Há ainda quem os leia?

Quem ainda trabalhe neles?

(…)

Ainda, ainda, ainda…

Que maluquice este meu estranhamento!

Houve uma época que recebia em casa, diariamente, quatro jornalões e semanalmente três revistas.

Há quantos séculos foi isso?

10 anos?

Cinco anos?

Menos?

Não apurei a resposta, nem me interessou apurar.

(…)

Sou um ogro dos tempos das cavernas. Ou quase isso – tirem as dúvidas na foto aí de cima.

Uns bons anos (os melhores?) da minha humilde existência vivi em função do…

jornal impresso

… e há quanto tempo não tenho um exemplar  deste em minhas mãos como agora?

Está mais fino, e algo sem o encantamento de outrora. Pouco atraente, achei. A consagrar as notícias de ontem.

Jesus!

Como posso dizer uma coisa dessas? Ingrato, isto que sou.

(…)

Quase todas as redações pelas quais andei, todo pimpão e faceiro, foram as de jornais impressos. Umas poucas revistas, duas ou três experiências em assessoria e que agora me lembre uma rara incursão no rádio como produtor de um programa sobre música popular brasileira.

Alguns amigos do peito chegaram a elogiar meu timbre de voz. Ui!

Nunca me arrisquei na locução. Não era minha praia. Também não recebi um tusta.

(…)

TV, nunca fiz.

Não me perguntem o motivo.

Outros tempos.

Os caboclinhos queridos, lá na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, desprezavam ‘a gerigonça de fazer malucos’.

“Na TV, tudo vira entretenimento”, ironizavam, com minha tola cumplicidade.

(…)

Eita, sô, que meu estranhamento inicial com o jornalão largado na bancada agora virou nostalgia. Lembranças.

Volto no tempo.

Éramos cheios de verdades absolutas, algo corporativos e outro tanto senhores do mundo.

Acreditem! Havia quem peitasse a vontade dos patrões.

“Aqui, na redação, mando eu. Da porta pra lá, nos outros departamentos, a família (sempre há uma família como proprietária dos jornais) faz o que quer.

Tínhamos lá uns editores porretas! Que não raramente saíam chamuscados dos enfrentamentos; quando não, perdiam o cargo, e dormiam desempregados e felizes.

(…)

Era comum naqueles idos, em meio ao expediente, ouvirmos uns urros, uma acalorada discussão – e, de repente, alguém sapecar a célebre frase:

“No meu texto, ninguém mexe!”

Olaiá…

Amanhã, se meus os amáveis leitores assim o permitirem, retomo o assunto e, se der, até explico quem é o personagem da foto aí de cima, tá?

Inté…

*(foto: reprodução/arquivo pessoal.)

 

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