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O Maluf que é obra de Maluf

01. Repare, caro leitor. Antes mesmo da votação de ontem, a eleição municipal paulistana teve um personagem principal: o prefeito Paulo Maluf. Mais do que qualquer outro candidato, o modo inconfundível de Maluf administrar, tocando obras grandiosas e fazendo política, deu a tônica da campanha e o projetou, como virtual candidato à Presidência da República em 98.

02. Todos nós sabemos bem. O prefeito gosta. Mas, faz charminho. Diz que precisa ouvir seus pares para se definir. Há quem acredite piamente que Maluf está indeciso. Não sabe se concorre a governador do Estado ou a presidente da República. Mas quem o conhece sabe bem: Brasília sempre foi seu objetivo de vida.

03. A obstinação de Paulo Maluf não é de hoje. A bem da verdade, ele está nessa batalha a longos e longos anos. Há mais de vinte, com certeza. Lembro-me, por exemplo, que, em meados de 76, Maluf e comitiva estiveram em Gazeta do Ipiranga. Ele, sorridente, dizia-se candidato a superintendência da Associação Comercial de São Paulo. No entanto, de seus amigos, ouvia-se comentários de que ele preparava uma surpresa para Laudo Natel, candidato oficial do Sistema, na corrida ao Governo de São Paulo.

04. Dito e feito. Pela primeira vez, não se cumpriu à vontade de Brasília e a convenção da Arena de São Paulo transformou Maluf governador. Ele não se fez de rogado. Falou em mudar a Capital, encontrar petróleo, viajou ao Oriente, distribuiu comendas e consagrou o jargão "obra de Maluf". Desde os primeiros dias no Palácio dos Bandeirantes, sempre se soube qual era o motivo de tantas peripécias: chegar à presidência.

05. Às vésperas das eleições de 82, novamente o séqüito de Maluf circulou pelo Ipiranga e arredores. Seu estandarte agora anunciava a candidatura à Câmara Federal. Sorridente, como de hábito, beijou respeitosamente as senhoras e senhoritas, distribuiu abraços e afagos e, de quebra, fez um sem número de promessas. Todos estavam entusiasmados. Maluf teria mais de 500 mil votos e o passo seguinte — comemoravam os correligionários — era o Palácio do Planalto.

06. Como deputado federal, Maluf usou a estada em Brasília para amealhar o maior número possível dos convencionais do PDS que, à época, ratificavam o nome do candidato a presidente da República no então famigerado Colégio Eleitoral. Mais uma vez, Maluf contrariou interesse oficiais e se impôs como candidato à Presidência derrotando o ministro Mario Andreazza, o indicado do então general presidente João Figueiredo.

07. Neste ponto, porém, seu plano de vôo deparou-se com o que se supunha impossível. A extraordinária mobilização popular pró-diretas despertou a Nação para o exercício da cidadania. Houve o racha entre o presidente Figueiredo e o vice Aureliano Chaves e a adesão da dissidência do PDS, capitaneada por José Sarney, à candidatura de Tancredo Neves, plantada pelas forças oposicionistas.

08. A partir de então, o malufismo viveu um momento obscuro. Paulo Maluf, apontado como representante maior do regime deposto, amargou sucessivas derrotas nas urnas: em 86 e 90, para governador; em 88, para prefeito e, em 89, para presidente da República. Seu projeto pessoal parecia haver se exaurido no limiar dos novos tempos que se preconizava para o País.

09. No entanto, em 92, eis que ressurge o mito Maluf. A vitória indiscutível, nas urnas, o transformou em prefeito de São Paulo e, de pronto, resgatou o velho estilo. A cidade virou um canteiro de obras. Projetos viários faraônicos, piscinões contra enchentes, Cingapura, Pás etc. Obras polêmicas que os adversários políticos contestam, condenam. Maluf governa para os ricos. Faz tudo para se promover– afirmam.

10. Os institutos de pesquisas, no entanto, revelam uma aprovação popular inquestionável. Cerca de 62 por cento dos entrevistados consideram sua administração de boa para ótima. Poucos associam sua imagem aos tempos do arbítrio. Há inclusive um lídimo representante da esquerda entre seus secretários. A pasta da Cultura é de responsabilidade do jornalista Rodolfo Konder, ex-presidente do Comitê Internacional da Anistia no Brasil. Os tempos, convenhamos, mudaram. E Maluf, queiramos admitir ou não, é um nome forte para a próxima campanha presidencial. Com ou sem reeleição.