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O melhor pai do mundo

Gilberto, um cinquentão aprumado, chegou em casa feliz da vida.

Foi direto ao quarto da filha Belinha, a adorada e idolatrada princesinha do lar doce lar.

Queria lhe fazer uma surpresa.

Equilibrava nas mãos cuidadosamente um embrulho feito com capricho pela moça da loja. Era um iphone, “último tipo”, que acabara de lhe comprar. Um mimo a mais para sua ‘joia rara’ que dias antes completara 18 anos.

Logo, logo, vira um mulheraço, pensou.

II.

Entrou no dormitório na ponta dos pés para lhe surpreender.

Estranhou a ausência. Mas ficou um tantinho feliz.

Faria como sempre fez, desde os tempos em que era uma garotinha de laços na cabeça, rechonchuda, lindinha de tudo.

Deixaria o pacote na cama – e esperaria pela recompensa, beijos e mais beijos e abraços, na sala de estar, com ares de quem nada soubesse, e nada esperasse.

III.

Nem bem terminara de deixar o presente sobre cama, ouviu rumores que
vinham do banheiro contiguo.

A porta entreaberta. O barulho da água do chuveiro…

Já não eram exatamente rumores e, sim, gemidos.

Olhou ao redor, viu roupas espalhadas pelo chão – inclusive uma bermuda ridícula, com desenhos e listas dispares, e um tênis de skatistas que não compunha exatamente o grau de elegância da menina.

Não quis acreditar que…

Que o tal do Duzão, que o chamou de tio nas poucas vezes que o encontrou, agora estava ali. No bem bom com a sua princesa.

IV.

Pensou em chutar a porta e acabar com aquela pouca vergonha.

Os olhos ficaram nublados, sentiu uma tontura e uma fincada no peito.

Não é possível, não quis acreditar.

Num ímpeto, saiu dali. Sem fazer ruído, sem deixar vestígio.

V.

Jogou-se no sofá, sem nada pensar.

Estava confuso.

Nancy, a esposa, nada lhe dissera.

Talvez também ela não soubesse de nada. Ou se soubesse, poderia achar a coisa mais natural do mundo.

Decididamente, nunca soube lidar com esse jeitão liberal da esposa. Inclusive na educação da filha.

Daí, a situação que agora vivia. Que constrangimento, que decepção…

VI.

Estava assim tão envolvido com seus pensamentos, nem percebeu que Belinha invadira a sala e, novo celular em punho, agora se atirava sobre ele. Beijos e abraços que quase o sufocaram. Ela ria e agradecia:

– Você é o melhor pai do mundo.

Cabelo molhado, shortinho de jeans a destacar as volumosas pernas, era sua menina de volta. Sentiu-se em paz. Como sempre nessas horas, deixava-se tomar por um encantamento único.

VII.

Tudo estaria perfeito.

Não fosse aquele vulto, na porta da sala, com aquela bermuda ridícula e o bonezinho de mentecapto naquela cabeleira cheia de drads.

Era Duzão, indiferente a toda aquela cena e avisando:

– Amanhã eu volto…