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O primeiro campeão global

O pai e os amigos sempre falavam da bravura dos craques do Palestra quando, em 22 de julho de 1951, contra tudo e contra todos, vingaram a perda do Mundial de 50 e conquistaram a Copa Rio – um torneio de futebol que reuniu renomadas equipes da América do Sul e da Europa.

O pai não falava em Mundial Interclubes, mas definia a coisa mais ou menos assim:

“Foi como se fosse uma Copa do Mundo. Só que, no lugar das seleções nacionais, jogaram os clubes campeões dos principais centros futebolísticos do mundo – Itália, França, Uruguai, Iugoslávia, Áustria, Portugal e Brasil, com dois clubes Vasco e Palmeiras”.

Segundo o Aldão, o certame teve outras denominações. Também foi chamado de Torneio Internacional de Clubes Campeões, Campeonato Mundial de Futebol e Torneio Internacional de Campeões.

Cada jornal, cada revista, chamou de um jeito.

Não era isso o que importava.

Ontem, para reverenciar os 65 anos da conquista, a FIFA legitimou o Palmeiras como “o primeiro campeão global”.

“Verde é a cor da inveja” – provocou a instituição nas redes sociais.

Sorry, periferia!

II.

Naqueles idos, a italianada e alguns chegados se reunia na esquina da rua Lavapés com a Justino Francisco de Azevedo, onde ficava o Bar Astória, no bairro do Cambuci em São Paulo. Ali, se encontravam para o bate-papo, o Patrão e Sotto e a cerveja. Ali, também ouviam, pelo rádio, as transmissões dos páreos do turfe e as porfias de futebol.

Naquelas semanas dos jogos, o pai me disse que todos resistiram a tentação de torcer para o Juventus, o campeão italiano. Estavam saudosos da Velha Bota, sim; mas se sentiam brasileiros, pois aqui viviam, trabalhavam. Aqui, nasceram os filhos e os netos.

Não era só gratidão. Era, sim, um gesto de amor com a terra que os acolheu.

Por outra, ainda era recente o profundo trauma que o Maracanazo deixou na alma de todos os brasileiros. Tanto os que aqui nasceram quanto os que o adotaram como pátria.

III.

Em várias ocasiões, ouvi do pai a comemoração:

“Lavamos a alma. Honramos o futebol brasileiro. Tanto que todas as torcidas celebraram a conquista que não foi só do Palmeiras e, sim, de todo o futebol brasileiro”.

Repito: o pai nunca falou em Mundial, mas era como se fosse.