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O reencontro

Encontraram-se depois de tantos anos.

Não muitos; quatro ou cinco. O suficiente para entenderem-se diferentes de quando se separaram; por iniciativa dela, para desespero dele.

O reencontro agora, marcado por um formalismo mais do que óbvio (um “olá” pra cá, um “tudo bem” pra lá), aconteceu porque ela tomou a iniciativa de ligar – e insistir.

Deve ser o clima de fim de ano, tantas celebrações, tantos congraçamentos, ele pensou – e resolveu topar sem muita convicção.

Ela, não. Sabia bem o que queria: ouvi-lo.

Como de costume, ela estava cheia de dúvidas sobre o que fazer da vida.

Como de costume, estava em dívida com ela mesma.

Não foi à toa que se livrou da cantilena de certo e errado, com a qual ele sempre procurou orienta-la enquanto estavam juntos. Queria mais e melhor. No entanto, tanto tempo depois (não eram tantos, insisto; embora para ela quatro ou cinco anos fossem uma eternidade) e a moça se sentia no mesmo lugar, imbricada em medos e desejos profissionais – e, como lhe explicar, absolutamente só.

Nem sempre ter um montão de gente ao lado significa escapar à solidão, ao inexorável vazio de estar avulso neste mundão de Meu Deus.

Mas, quando procurou na velha agenda de papel o número que por anos e anos soube de cor, a idéia era mesmo ouvi-lo e lhe pedir um norte para a carreira e a vida.

Agora, estavam ali, frente a frente, naquela mesa de restaurante simples, para um almoço, como disse acima, formal entre dois bons amigos.

Curioso!

Quando ela dizia que não deviam se levar tão a sério, ele surtava.

— Podemos ser amigos casuais, topa?

Ele nem respondia, de tanta indignação.

Agora, repito, estavam ali, como bons amigos. Ele falava sem parar, vislumbrando rumos e prumos para o seu futuro na empresa ou mesmo em um negócio próprio.
Ela ouvia, a princípio, interessada. Mas,m logo veio uma incontrolável vontade de cortar aquele discurso com uma pergunta nada a ver.

Foi o que fez:

— Se eu não tivesse bancado a louca e fugido pra longe, será que você toparia largar tudo por mim?

Surpreso, ele interrompeu o que dizia, sem terminar a frase.

Fez-se um brevíssimo instante de silêncio. Pareceu que todo o restaurante vivia aquele momento de definição.

Então lhe respondeu sinceramente, mas dentro do formalismo que pautou aquele reencontro:

— Provavelmente, sim.

Mas, ressaltou, não podia assegurar nada. Porque nem ele, nem ela tinham certeza de nada. Só da intensidade de tudo o que viveram, e da dor da separação.

— Não tenho como lhe responder hoje a uma pergunta que deveria ter sido feita quatro ou cinco anos antes.

Talvez não fosse essa a resposta que ela gostaria de ouvir.

Mas, entendeu que era a única que ele poderia lhe dar naquele preciso instante.

No amor, como na vida, tudo tem seu tempo certo. Até para continuar indefinido…