Foram quatro dias enfurnado nos cafundós da Serra da Bocaina, localizada a partir da bucólica São José do Barreiro, no Vale do Paraíba, próximo à divisa de Minas, Rio e São Paulo.
Pois então, lá onde o vento faz a curva e o sol bate e se inclina montanha após montanha, em cenários de majestática beleza, fiquei esses dias entre livros (mal encaminhei algumas páginas de leitura), conversa fiada (sobre os meandros do lugar) e as bem-vindas travessuras do sobrinho-neto Bernardo (que é um bálsamo para todo e qualquer desalento).
Pois bem…
Foi lá que fiquei sem lenço, sem documento e sem internet ou outro meio qualquer de comunicação.
II.
Saio do mundo ideal e chego à cidade grande.
Minha leveza d’alma se perde na primeira curva do caminho.
Mal dou conta de assimilar o noticiário desses dias de ausência voluntária e necessária.
Parece que este Brasilzão, que um dia foi de meu Deus, está descendo ladeira abaixo. Em termos de credibilidade internacional, vamos de mal a pior.
O suceder de áudios que vazaram envolvendo meio-mundo da política e do atual (des)governo só comprova o que todos já sabiam (e fingiam não ver). Nem sequer os Barões da Mídia conseguem segurar a onda de denúncias que varre reputações e ministros temerosos.
Já há editorais na imprensa estrangeira que fale da ‘ditadura do Judiciário’ que ameaça se implantar em um país que, até pouco tempo, se notabilizava pelos avanços democráticos e de inclusão social.
III.
Tragédia maior – não tenho dúvidas – se vê no esgarçamento do tecido da atordoada (mas, não inocente) sociedade. Aspectos mais sombrios da miséria humana se sobressaem no dia a dia do cidadão e mostra um Brasil muito diferente daquele que consagravam nossa espalhafatosa fama internacional.
Deixaram pra lá o blablablá de “o País do futuro”, de “o povo hospitaleiro, alegre e feliz” etc etc.
O País do futebol, todos sabem, não somos há tempos.
Agora preferem falar em adiar as Olimpíadas por causa do zica vírus. Denunciam a poluição da Baía de Guanabara e da Lagoa (onde seriam disputadas as provas náuticas dos Jogos), Repercutem a tragédia de Mariana e ficam indignados com o caso de estupro no Rio de Janeiro e tomam consciência de que, no Pa_tro_pi há um caso de violência sexual a cada onze minutos.
IV.
Melhor parar por aqui. Está de bom tamanho para uma segunda cinzenta, e triste.
Diante de tantos e tamanhos fatos, alguém me alerta:
“Você devia ficar por lá.”
Como se lá não fosse um naco do Brasil e a minha breve alienação fosse solução para o caos que vivemos.
No entanto, outro amigo prefere a ironia para encerrar a conversa:
Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores, o José Serra, proibiu que se fale em golpe nas embaixadas… E está tudo resolvido.