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O último 7 de setembro do milênio

Esperança, teu nome é…

01. Conheci um senhor que lamentou muito não ter ido ao Parque da Independência na manhã de terça, dia 7. Em suas conversas sempre lembrou que, desde os tempos em que morou no Cambuci, Dia da Pátria que se prestasse era vivido nas alamedas entre o Museu e o Monumento da Independência. Mas, isso era nos antigamente, anos 40, 50, 60… Depois, também. Mas, já não era a mesma coisa. Os senhores do Poder passaram a misturar civismo, patriotismo e outros tantos ismos em nome de um tal milagre econômico. De qualquer forma, nunca deixou de ver o Parque da Independência como um referencial de História e um símbolo de todos os brasileiros.

02. Como ia dizendo, este simpático senhor gostaria muito de estar presente logo às 10 horas da manhã quando as entidades e associações do bairro depositaram flores em frente ao Monumento. A todos os líderes comunitários, falaria sobre o bairro do tempo do bonde Ponto Fábrica, dos campos de várzea, da lagoa lá no Sacomã, onde hoje é o começo da Tancredo Neves. Aplaudiria todos os discursos mesmo sem prestar muito atenção no real teor das palavras. Tudo é História, diria. A vida, a gente transforma em História. Antes de se retirar, comentaria que o filho — que trabalha há tantos anos no bairro — mandou recomendações e um sincero abraço a todos… Quem é amigo do meu filho, é meu amigo também.

03. Sua jornada no Parque, no entanto, não se encerraria ali. Mais adiante, na Esplanada dos Coqueiros, ficaria inteiramente à vontade entre as 3 mil pessoas que participaram do Grito dos Excluídos, ato público comandado pelas pastorais da Igreja Católica e pelos partidos de Oposição contra o Governo FHC.

04. Governo? Que Governo?, questionaria entre faixas, cartazes, bandeiras de diversas procedências e manifestantes de todas as idades. O povo tem que se organizar e fazer valer sua cidadania. Saúde. Habitação. Educação. Segurança. Emprego Pleno. O Governo tem de cumprir o que prometeu. Para isso, foi eleito em duas oportunidades. Nossa Economia absurdamente atrelada aos ditames do FMI. Agora é o monstro da globalização que devora nossas entranhas. Assim as empresas fecham suas portas, o emprego some e o dinheiro continua circulando na mão dos mesmos, sempre os mesmos. É isso aí, gente! Vamos acordar. Este é o verdadeiro sentido do 7 de setembro. Não tem lógica um paísão deste tamanho sob o tacão da injustiça social. Olha a vergonha que é a situação dos aposentados. Falam, falam e nada muda. Meu filho tinha que estar aqui. Meu filho tem que escrever sobre isso…

05. Não deu para estarmos lá, né, pai. Um enorme vazio e uma doce saudade preencheram o nada do meu feriadão. De qualquer forma, estou cumprindo a segunda parte: escrevo o que o senhor gostaria de ler na manhã desta sexta-feira, como se aquele seu jeito sereno de partir nunca houvesse existido… Descanse em paz. Aqui no Planeta Terra, vou continuar exercendo e difundindo a incomparável virtude de ser feliz. Sua grande lição de vida.