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Os inocentes

A história do ovo e da galinha, lembram?

Ou aquela outra da tal bolacha que vende mais porque é fresquinha. Ou é fresquinha por que vende mais.

Quem veio primeiro?

Recentemente, os brasileiros descobriram outro tira-teima. São políticos corruptos que procuram os empresários mal-intencionados. Ou são estes, gananciosos, que buscam os politicãos para as
devidas negociatas.

Será que a coisa toda se dá ao mesmo tempo, quando as partes se encontram em grandes festas, em espaços reservados – restaurantes, corredores de Brasília, gabinetes emplumados e afins – que a plebe ignara – ou seja nós – jamais frequentou?

Fica a questão…

II.

Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, em novembro de 2014, o empresário Ricardo Semler foi enfático:

Aspas para ele:

“Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.

Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.

Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos "cochons des dix pour cent", os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.

Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão –cem vezes mais do que o caso Petrobras– pelos empresários?

Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que fingimento é esse? ”

A íntegra do texto está no link:

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/11/1551226-ricardo-semler-nunca-se-roubou-tao-pouco.shtml

III.

Desconfio até que tratei do artigo, por aqui, na ocasião.

Considero oportuno retomá-lo hoje diante dos fatos e denúncias que explodem aqui e ali e põem em xeque o verniz dos tristes dias que vivemos – e causam espantos em Deus, na Rede Globo e
suas coirmãs e no mundo.

Confesso: também faço parte desse espanto geral.

Mas, não só com o que ouço, vejo e leio.

Tenho outra indignação.

Querem saber?

IV.

O pouco que militei na área do jornalismo político já me mostrou onde, quando, como e por que se dava o jogo de cartas marcadas. Quem levava as fichas da mesa eram sempre os mesmos.
Esses que ainda hoje estão por aí. Ou os interesses que a turba representa.

Era assim em tempos ditatoriais, pouquíssima coisa mudou com a redemocratização. Infelizmente.
As forças que sempre mandaram no país continuaram a mandar. Se perderam a queda de braço na Constituição de 88 em termos dos direitos dos trabalhadores, nunca se conformaram com essa derrota – e, de alguma forma, “trabalharam” firmemente para reverter o quadro.

Em muitas empresas de comunicação (para não falar todas), a terceirização já é uma prática consumada. Ser PJ (pessoa jurídica), frila fixo ou ficar à disposição das necessidades do dia, já é uma lamentável realidade para muitos profissionais.

V.

Volto à questão dos escândalos envolvendo o nome de políticos de todos os matizes.

Quem não sabia que era assim?

Jornalistas que cobrem o Congresso há anos, que circulam pelos bastidores do Poder, alguns que celebram intimidade com políticos e empresários, que compartilham o cafezinho do Senado – esse pessoal todo mostrar espanto e surpresa diante de tudo que vimos e ouvimos é subestimar a inteligência de leitores, ouvintes e espectadores.

Como me disse um velho amigo dos tempos da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, os coleguinhas sabiam que era assim. “Mas, nunca imaginaram que era tão escrachado, tão violento”.

Deviam ao menos desconfiar…

Há um bom livro, escrito pelo jornalista Carlos Dornelles, o título diz tudo:

“Deus é inocente. A imprensa, não”.