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Projeto para a nova era

"Ser poeta não é minha ambição. É a minha maneira de estar sozinho" (Fernando Pessoa)

01. Eles se encontraram em frente da igreja onde um dia entraram, e por conta e risco, juraram amor eterno. À época, no afã da paixão, imaginaram que a promessa era suficiente para lhes garantir felicidade infinita. Entenderam que o silêncio da igreja vazia e a luz azulada que entravam pelos vitrais abençoavam a proposta e o sonho…

02. Foi um momento único, pleno, raro que se conta nos dedos de uma das mãos quantas vezes acontecem na vida de uma pessoa. Eram felizes. Melhor: tinham um projeto de felicidade — o que é outra fina especiaria que dá cor e sabor à nossa existência.

03. Lembraram desse dia assim que o acaso os colocou frente a frente. Mas, o momento de hesitação foi breve. Logo estavam conversando sobre as obrigações e compromissos do cotidiano. Falavam de generalidades, do que está à superficie da vida: o trabalho, os estudos, uma provável viagem. Mas, enquanto falavam e/ou ouviam, pensavam nos caminhos que não percorreram, se teria valido a pena insistir e a falta que um ainda fazia na vida do outro…

04. Despediram-se com a formalidade dos amigos que não se vêem há longos anos. Mas, em seguida, sentiram-se pouco à vontade nos afazeres do dia. A sensação do efêmero era desconfortável. Assim como o verso de Chico Buarque que latejou silenciosamente na mente de ambos: para sempre é sempre por um triz.

05. Todos nós, de uma forma ou de outra, acabamos por conviver diariamente com esse tipo de questão — e muitas e muitas vezes de forma menos romântica, eu diria. Vivemos a entrar e sair de situações que nos parecem definitivas, conclusivas. Mas, que passam como a onda que se ergueu no mar. É o nosso jeito de lidar com o efêmero que acaba por definir os dias amenos ou turbulentos. O mundo de hoje é assim e o atentado de 11 de setembro mostrou o quanto a Humanidade anda distante das certezas absolutas, o quanto andamos por um triz…

06. É ilusão imaginarmos que um fato ou outro vai exterminar todos os males do mundo. Por isso, entendo tragicamente distante o fim dessa era de conflito que ora vivenciamos. Não será com a prisão de Bin Laden ou com a explosão da fortaleza de Arafat que será alcançada a almejada paz na terra aos homens de boa vontade… O caminho é perigosamente mais longo e sinuoso e passa por um sentimento cada vez mais raro entre os homens: a fraternidade.

07. Difícil deixar de falar em fraternidade no mês natalino de dezembro. A fraternidade vai além das sacolinhas e doações às entidades assistenciais. Passa por um mandamento que será essencial na reconstrução da nova era de paz, harmonia e justiça social: amar ao próximo como a si mesmo. Já imaginou, caro leitor, todas as implicações que tais palavras podem ter.

08. Caso contrário, continuaremos como os amantes que o acaso reuniu na porta de uma igreja, mas não encontram palavras para celebrar o verdadeiro amor.