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Quem nunca?

Uma cidade litorânea perdida no Nordeste brasileiro. Um canto de mundo ensolarado para amorenar a filosofia que a vida lhe impôs:

Lembrar de esquecer.

Esquecer de lembrar.

Fuga ou opção?

Reencontrar-se.

Revitalizar-se.

Reviver.

Ele e ninguém sabem explicar.

Exatamente neste oco do mundo onde a civilização e o turismo não deram as caras, é exatamente aí que o forasteiro imagina encontrar a almejada paz que todos procuram e, se possível, um naco de felicidade.

Quem nunca?

Sua presença, entre os da terra, causa estranheza.

Não é pra menos.

Longe de ser um jovem aventureiro, é entrado em anos. Homem feito. Chega do nada, arrasta um mochilão de pano, com tudo (quase nada) o que tem dentro.

Figura estranha. Cabelos revoltos, em desalinho. Feições rústicas e olhar fatigado.

Calça tamancos de madeira.

Isso é lá jeito de se apresentar?

Seria um extraterrestre?

Um desajustado em busca de encrenca?

Um fugitivo da lei?

(Como se lei houvesse nesses trópicos.)

Mistério.

Vai morar sozinho naquela choupana à beira-mar.

É de poucas palavras.

Dá pra perceber que se faz indiferente a tudo e a todos.

Sobram dúvidas a seu respeito.

Quem aguenta viver nesse fim de mundo?

Parte 2

Segure a curiosidade, caríssimo leitor.

Tal personagem inspira-se em outro, o médico Juarez Leão que viveu, entre 24 de janeiro e 9 de outubro de 1973, no universo ficcional da novela “O Bem Amado”, de Dias Gomes.

Novela que, entre outros feitos, imortalizou o ator Paulo Gracindo como o parlapatão prefeito Odorico Paraguaçu, da imaginária (mas, tão real) cidade de Sicupira.

Juarez Leão (que só ao fim da trama se soube era um médico renomado) foi interpretado por outro grande ator, Jardel Filho.

A arte imita a vida ou é a vida que imita a arte?

Outra das tantas questões para as quais não trago resposta.

Sei que eu tinha lá meus 20 e poucos anos (e todos os sonhos do mundo) quando assisti, ainda que parcialmente, à novela.

Divertiam-me o palavreado de Odorico, as estripulias de Zeca Diabo (Lima Duarte), amava a beleza de Telma (Sandra Bréa), enfim… Um elenco de primeira.

Mas, o que me impressionava mesmo ia além da trama.

Queria saber se existia alguém com a coragem (e o tutano) de Juarez Leão para largar o conforto da cidade grande e se aboletar em algum cafundó do Planeta.

Vivia-se um tempo em que era moda as tais comunidades hipongas, o amor livre, a contracultura, o rebelar-se contra os senões da ditadura no Brasil, o consumismo, as convenções.

Essa tribo olhava pra frente, queria construir outra era. A era de Aquarius.

Mas, o tal Juarez Leão fugia do estereótipo.

Emaranhava-se  com o passado.

Parte 3

Eu era jovem, como lhes antecipei acima, e algo inconsequente, como me definia o Velho Marques, naquela redação onde trabalhei.

Não conseguia entender tamanha prostração.

Hoje, quase 50 anos depois (olhe a loucura que vivemos), me vejo cercado de gente que deseja (ou apenas fala em) imitar, na vida real, o exemplo de Juarez Leão.

Reclamam que o grau de boçalidade, egoísmo e estupidez é tamanho que têm vontade de escafeder-se, cair no mundo, abandonarem-se por plagas serenas e acolhedoras onde se possa morar no interior do próprio interior.

Sem que saibam, pois poucos se lembram da novela, repetem o gesto do nosso herói.

Não conjecturam o futuro.

Dia desses, escutei:

“O mundo anda sem rumo e sem prumo. Mas, deve haver um paraíso perdido onde se possa viver em paz. Pra esquecer e ser esquecido.”

Não vou lhes contar o final da novela.

Até porque não lembro.

(Desconfio que o amigo leitor vai encontrá-la num desses Net Flix da vida.)

Permito-me, porém – e finalmente, uma sincera confidencia.

(Que fique entre nós, hein!)

Sem qualquer convicção, vez ou outra penso nisso.

Mas, acreditem, dispensaria os tamancos de madeira.

 

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