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RCM

Voltei a escrever a coluna “Caro Leitor”, espaço que ocupei semanalmente por 24 anos na página 2 de Gazeta do Ipiranga. Foi nesta sexta, dia 25, quando circulou a edição especial do semanário que comemorou 50 anos de existência e conquistas.

Fiquei feliz por esse breve retorno do RCM – era assim que eu assinava a coluna.

II.

Hoje, recebi a visita do amigo Waltão aqui, na Universidade. Ele continua a esgrimir o risque e rabisque da vida no velho casarão da avenida Bom Pastor e veio gentilmente me trazer e presentear com um exemplar do jornal.

Confesso que reli as breves linhas como se fossem as primeiras que ali publiquei em março de 1974, quando era redator-estagiário e vi minha primeira matéria publicada. Um “fala povo” sobre o Dia Internacional da Mulher. Escrevi que uma das entrevistadas era desquitada e, juro, causou um certo frenesi na Redação. Pode ou não pode? Tempos de censura e auto censura. Por vezes, perdia-se o referencial.

III.

Lembro que o Marcão, o grande Tonico Marques, mentor intelectual de todos ali, chegou a ser consultado. E decretou sereno, do alto da sua sapiência.

— Poder, pode. Mas, garotão, vê se não esquece que este é um jornal de família.

Enquanto ele ria do deboche, eu todo cerimonioso agradeci:

— Sim, senhor. Não vou esquecer

Ele não perdeu a chance de outra lambada:

— Senhor tá no céu.

IV.

Vejam o que escrevi.

Aspas para mim:

"Quinta, 26 de junho de 2003.

Depois de 24 anos, é a primeira vez que acordo numa quinta sem o compromisso de escrever a coluna Caro Leitor para o jornal Gazeta do Ipiranga. Lembro que, quando meu filho nasceu, era quinta-feira também. 20 de março de 1980. Antes de seguir para a maternidade, ainda alinhavei a coluna daquela semana. Outra quinta, 2 de setembro de 1999, não consegui escrever. Estava no velório do meu pai, o velho Aldo.

Sexta, 25 de abril de 2008.

Quase cinco anos depois, estou aqui a ocupar este espaço outra vez. Venho reverenciar os 50 anos de Gazeta do Ipiranga. O que lhes posso dizer além das lições que aprendi com o tempo, aquele que não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém?

Que Gazeta do Ipiranga me deu régua e compasso – e caríssimos amigos – para traçar uma rota de vida. Sempre pautada por valores éticos e jornalísticos. Que aqui nessas páginas fundeei sonhos e amores. Que pude vivenciar mudanças históricas na comunidade e no País – e GI estava em todas, dos torneios varzeanos às Diretas. Que aprendi a respeitar, cada vez mais, quem está aí, do outro lado, com olhos pregados no papel. À espera de um mundo melhor.

Um mundo que Gazeta do Ipiranga teima em acreditar e, por certo, saberá transformá-lo em belas histórias para lhes contar a cada manhã de sexta-feira. Dia sagrado da Gazetinha chegar à sua casa." (RCM)